O que eu mais gostava na casa da minha avó paterna eram os travesseiros com enchimento de macela. Parecia que a gente dormia numa nuvem de perfume.
Foi o primeiro lugar na vida onde vi bancos enormes de madeira na sala de jantar, daqueles de igreja. Até outro dia a comida era feita em fogo de lenha por opção. E o cuscuz era de milho ralado na hora. Foi o único lugar na vida onde vi um pé de figo.
Meu avô era marceneiro e bastava olhar pra gente pra dizer peso e altura. Também tinha uma ternura perversa. Quanto mais ele gostava de alguém, mais torcia os dedos e beliscava. Minha avó era altiva e severa, mas a única que caia no choro quando as férias acabavam e a gente voltava de Pernambuco para a Bahia. Não lembro nunca dela ter vindo em nossa casa. Só meu avô e seu indefectível chapéu.
Minha avó materna não conheci. Minha mãe dizia que era uma mulher delicada e suave. Meu avô materno vi pouco e sempre breve. A história dele saiu no jornal nacional lá pelos anos 70. Uma tragédia que deixou três pessoas da família mortas e algumas feridas. Ele também foi vítima. Mais não conto.
Meu avô se casou várias vezes e teve filhos mais novos que eu, alguns nunca vi. O último ainda era bebê quando ele se suicidou lá pelos anos oitenta ou noventa. Quando foram dar a notícia para minha mãe, tentaram obrigá-la a tomar tranquilizantes. Ela não relutou, mas jogou o remédio fora escondido. Só eu vi e nunca contei pra ninguém. Até hoje.
Foi o primeiro lugar na vida onde vi bancos enormes de madeira na sala de jantar, daqueles de igreja. Até outro dia a comida era feita em fogo de lenha por opção. E o cuscuz era de milho ralado na hora. Foi o único lugar na vida onde vi um pé de figo.
Meu avô era marceneiro e bastava olhar pra gente pra dizer peso e altura. Também tinha uma ternura perversa. Quanto mais ele gostava de alguém, mais torcia os dedos e beliscava. Minha avó era altiva e severa, mas a única que caia no choro quando as férias acabavam e a gente voltava de Pernambuco para a Bahia. Não lembro nunca dela ter vindo em nossa casa. Só meu avô e seu indefectível chapéu.
Minha avó materna não conheci. Minha mãe dizia que era uma mulher delicada e suave. Meu avô materno vi pouco e sempre breve. A história dele saiu no jornal nacional lá pelos anos 70. Uma tragédia que deixou três pessoas da família mortas e algumas feridas. Ele também foi vítima. Mais não conto.
Meu avô se casou várias vezes e teve filhos mais novos que eu, alguns nunca vi. O último ainda era bebê quando ele se suicidou lá pelos anos oitenta ou noventa. Quando foram dar a notícia para minha mãe, tentaram obrigá-la a tomar tranquilizantes. Ela não relutou, mas jogou o remédio fora escondido. Só eu vi e nunca contei pra ninguém. Até hoje.
12 comentários:
Anne, que post. Tantas coisas em poucas palavras. Muito lindo.
uau!!
Obrigada pela vista carinhosa
beijos
A Caminhante disse tudo:
Anne, que post. Tantas coisas em poucas palavras. Muito lindo. (2)
Quando sai o seu primeiro romance, heim?!! Excelente relato.
Nossa! Concordo com Maria do Carmo...você devia começar logo a escrever um livro. Já percebi que material não falta e muito menos talento.
Obrigada e beijos para todas.
Foi exatamente em 1987, o fato ocorrido com vovô.
Boa memória a sua, Fau. Não lembrava a data de jeito nenhum.
Não é questão de boa memoria é que estava gravida de Tadeu e fui eu que recebi a noticia.
É mesmo! Agora lembrei disso.
Estou passeando por seus belos textos, e este me engasgou. Bonito demais. Bjos
Aeronauta, sempre é muito bom "vê-la" por aqui. Saudades.
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