Nunca fui pedida oficialmente em casamento. Mas uma brincadeira me acompanhou a vida toda, envolvendo o primo de meu pai, Paulo Preto. Ele tinha vinte e pouco anos e eu uns três, lá em Maribondo, onde a gente morava no interior de Alagoas.
Quando qualquer pessoa perguntava:
- Você é o que de Paulo?
Em vez de prima, eu dizia:
- Você é o que de Paulo?
Em vez de prima, eu dizia:
- Noiva.
E assim ficou.
Quando a gente veio para a Bahia e se afastou de boa parte da familia, sempre ouvia meus pais contando essa história, mas não lembrava de nada, nem sabia se Paulo dava importância ao fato. Até que um dia - eu adulta, já casada e com filhos, recebi um telefonema dele.
Disse que tinha encontrado meu pai em Maceió, onde ele também estava morando, e pediu meu telefone. Lembrava muito de mim: uma garotinha sapeca que vivia pra cima e pra baixo com um urso azul de plástico e o fazia comprar pipoca todos os dias (ah, esse meu charme sempre a serviço da gastronomia). Casou, descasou, teve filhos, netos e gostaria muito de me ver, pois eu era como uma filha também. Marcamos. No ano seguinte quando eu fosse em Alagoas visitar meu pai. Peguei telefone e endereço.
Disse que tinha encontrado meu pai em Maceió, onde ele também estava morando, e pediu meu telefone. Lembrava muito de mim: uma garotinha sapeca que vivia pra cima e pra baixo com um urso azul de plástico e o fazia comprar pipoca todos os dias (ah, esse meu charme sempre a serviço da gastronomia). Casou, descasou, teve filhos, netos e gostaria muito de me ver, pois eu era como uma filha também. Marcamos. No ano seguinte quando eu fosse em Alagoas visitar meu pai. Peguei telefone e endereço.
Como uma canceriana que se preze, achei o gesto dele muito bonitinho e uma chance ótima de resgatar o passado. Passar a limpo o que passou é meu nome e sobrenome. Mas não deu. Paulo morreu alguns meses depois do telefonema. Meu pai se encarregou de avisar. E assim como muita gente é até viúva de marido vivo, acho que me senti uma espécie de viúva também - meio Porcina de Roque Santeiro: aquela que foi sem nunca ter sido.
7 comentários:
ah, esse post me deu tanto: riso (esse charme a serviço da gastronomia), saudade (da minha infância moleca), ternura (pela minha família) e essa dorzinha fina de saber que a vida é assim, imprevisível e, de certa forma, cruel.
Lu querida, você resumiu bem tudo que sinto sobre essa história. Um abraço.
Oh, que triste!
Ih!!! Eu não te pedi em casamento? Foi tão repentino assim? Desculpa ai viu! Quer casar comigo? Mas só aceito se seus filhos forem os guardas de honra, será que eles aceitam? Mas tem que ser como os conheci...
Nada. Agora a gente tem Luca pra ser guarda de honra. Imagine ele engatinhando pela igreja e querendo
destruir a decoração.
Tira Luca dessa. Ele chegou depois. Te amo, beijos
Te admiro por esse memoria previlegiada e dou graças a Deus por te-las, pois revivo minha infancia tb atraves da sua.Bjos te amo.
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