Lembro exatamente onde eu estava quando Elvis Presley morreu há trinta e sete
anos. Eu era uma menina e dançava sem saber dançar. Gostava do Elvis por causa
de minha mãe que gostava do Elvis e via através da figura que ele se
tornou, a figura que ele foi. O homem sensual com cara de menino. Conta a lenda que, proibido de
rebolar pela policia, em uma cidade onde fazia show, Elvis incendiou a platéia apenas movendo a mão.
Eu tinha treze anos e estava ouvindo rádio na casa de France, minha melhor
amiga de todos os tempos.
Nunca perguntei se ela lembra.
A programação foi suspensa para noticiar a morte do ídolo. Depois, na tv, reprisou o último show de Elvis. E a gente viu na plateia várias mulheres
envelhecidas que um dia foram as mocinhas incendiadas pelo homem do vozeirão e
cintura solta.
Elvis é aquele tipo de artista que não tem substituto. Podem chegar perto,
mas ninguém vai fazer o que ele fez. Teve vários herdeiros vocais, Jerry
Adriani, Renato Russo, mas a proposta era diferente.
Agora eu ouço o Daniel Boaventura cantando Suspicious mind. E penso no
Elvis.
Na menina que eu fui, inclusive.
A que dançava sem saber dançar.