30 de dezembro de 2012

 

Feliz 2013, pessoal

Barbara Eden deseja a vocês:



(De que são feitos os dias?
- De pequenos desejos,
 vagarosas saudades,
 silenciosas lembranças.

 De loucuras, de crimes,
 de pecados, de glórias
 - do medo que encadeia
 todas essas mudanças.

 Cecília Meireles)

22 de dezembro de 2012

??


A dúvida. A verdade a gente acaba aceitando um dia.

19 de dezembro de 2012

Só quer ser teen

Quase uma semana longe de casa. Aproveitei as férias e vim acompanhar minha filha que deixou Feira de Santana e está morando em outra cidade a trabalho. Mais de quatrocentos quilômetros de distância. O local é muito bonitinho e hospitaleiro, mas o sol é de rachar até para quem é acostumado com o calor escaldante.
Todo dia que chega em casa minha filha ri de mim que estou vermelha que nem um pimentão, mesmo com protetor solar. Hoje reparei que ficou até a marca da camiseta nas costas. Lindo. Fato que rendeu o singelo apelido de Queimadinha da Bahia.
Tudo bem, eu mereço.
O pior mesmo é que só agora está caindo a ficha que minha caçula saiu de casa. A última. Só restamos eu, a síndrome do ninho vazio e meu velho que, toda vez que digo isso, responde carinhosa e delicadamente:
- Velho é a mãe!

15 de dezembro de 2012

A desculpa

Minha família acredita que escrever no blog é bom para mim.
- Já que não exercita o corpo pelo menos exercita a mente.
Ah, nada como essa intimidade carinhosa!
Assunto que lembra meu cardiologista. Ele acha que eu deveria morar em um apartamento, pois seria obrigada a subir escada constantemente. Considerando que não há mesmo chance de uma academia. 
- A senhora sobe de escada e desce de elevador para não sobrecarregar os ligamentos dos joelhos.  
Bom, escada aqui em casa tem e leva justamente para a sala onde fica o computador. Só não tem o equipamento para descida suave. Então quando alguém reclama que passo muito tempo isolada-no-alto-da-torre só me resta a pertinente, objetiva e triunfal desculpa:
- Ordens médicas.

14 de dezembro de 2012

O sonho

Era uma espécie de vila misturada com um parque de exposições onde estava acontecendo uma grande festa. Queria entrar lá de qualquer maneira pois tinha esquecido alguma coisa muito importante em uma das casas, mas era preciso esperar o horário.
Assim que liberaram a entrada, pulei em um dos imóveis e sai andando loucamente pelos telhados. Depois de certo tempo e muitos tropeços, olhei para baixo, vi uma oficina e identifiquei um conhecido trabalhando lá.
Pedi:
- Fulano, me ajuda a passar para os próximos telhados porque a situação complicou aqui.
E ele:
- Tudo bem, eu ajudo. Mas as portas estão abertas.


A história da minha vida.

8 de dezembro de 2012

Fim do mundo e quase toy story

O mundo acaba no último dia de minhas férias, o que é realmente o fim do mundo, convenhamos, porque outra só ano que vem. Mas ai tem a escala de Natal e eu ganho mais alguns dias para cuidar das plantas pois agora sou uma cidadã com plantas em casa. Isso depois que ganhei do meu ex-marido um jardim suspenso para colocar vasos em frente a janela.
Só podia ser coisa de ex-marido.
No nosso primeiro aniversário de casamento, ele me deu uma batedeira de presente. Mas essas são águas tão passadas que nem vale a pena lembrar.
Quanto ao jardim suspenso estou sendo mal agradecida. Gostei do presente, achei bacana e agora cuido de plantas, o que não deixa de ser uma terapia. Assim como é terapia também passar algumas horas com meu neto.
Quando a gente tem criança, o primeiro desafio é não escrever "criança pequena", depois enfrentar os diálogos nonsenses. Abro a sacolinha que a mãe mandou, tiro o brinquedo e digo toda animada:
- Olha quem veio brincar com bebê-lindo hoje!!!
Ele responde no mesmo tom:
- Woody!!!
- O cowboy amiguinho de bebê. Que coisa linda! Isso, abraça o amiguinho...Não, não! Não arranca a cabeça dele, o pé também não...Eita, lá foi um dedo!

25 de novembro de 2012

Finados

Depois que eles partiram
os dias nunca mais foram os mesmos. Entro
no ônibus errado, esqueço documentos.
Quero saber onde estou
não acho a porta. Trancada
por dentro.
Depois que eles partiram sobrou muito

mas há a falta.
Preguei-me uma placa
de total falta de senso.
Peço a Deus coragem
me benzo trezentas vezes
visto roupas leves curvadas de tanto peso.

quero saber como acordar
como volto a ser quem era.
Meu nome no documento.
inverno, verão, primavera
tudo se mistura
nenhuma certeza

Sonho com o regresso. Pai, mãe
todos à mesa
e eu. que há muito não sou eu.
a mesma.

7 de outubro de 2012

Hora de saber o que mudou em você
que olha no espelho e não vê ninguém

Ney Matogrosso, Mais além

30 de setembro de 2012

Despercebido

ou inaperçu:



Gregoire Leprince-Ringuet

Pensamento do dia

Coragem eu tenho. O que me atrapalha um pouco é o medo.

15 de setembro de 2012

Eu e as coisas a casa

A criatura coloca a panela no fogo e desliga o botijão de gás depois não entende porque a comida demora  tanto para cozinhar. Também está pensando em fazer um estudo aprofundado sobre a auto e incessante procriação dos pratos para lavar e enxugar. Cuidar da casa é um mundo novo para mim. A faxineira percebe a boa intenção e dá dicas. Cuscuz com aveia. "Fica uma delícia". Ficou. Fiz meu primeiro feijão hoje. Pergunto a marido: e ai? 
- Tá com cara de feijão.
Menos mal.
Nada disso rende post. Meu mundo não rende post. Netos também não. Mas a saudade do meu sim. Está viajando com os pais e os avós do-outro-lado, volta semana que vem. Aprendeu a chamar Helio de vovu. Me emociono por tabela. Choro feito besta.
Na festa da creche perguntaram: o que mudou depois que seu neto nasceu?
- Fácil, aprendi todas as músicas da galinha pintadinha.
Sei lá, nunca tive tempo de criar meus filhos 100 por cento, talvez por isso, com Luca, tudo seja tão novo e bom.
- Fala vovó, meu amor:
E ele, no espírito do contra da familia:
- Titi-a!
Livro para ler. filme para ver. Vamos ao cinema?
Mão cheirando a cebola. Folgo hoje e domingo, trabalho segunda. Descansar carregando pedra, mas descubro que não é tão ruim. Todo mundo colabora.
Elisa:
-Mãe, a gente precisa arranjar um jeito de aguar as plantas sem molhar a varanda toda.
Acho bonitinho.
Tudo para ela tem que ser controlado, milimetrado. Quase matemático.
A quem puxou?
Helio assume a cozinha durante a semana.
A vida muda. As prioridades.
Acho que estou ficando velha. Isso também não rende post.
Vamos falar do tempo.
Poesia. 
Daqui a pouco vou jogar no Facebook. Bastante.
Ai que prazer, não cumprir um dever. Não é, Pessoa?

29 de agosto de 2012

Depois de bater um dos dedos da mão na porta de vidro e perder metade da unha, me lembrei porque não costumava deixá-las compridas desde os tempos das unhas postiças na escola (vide post anterior). Marido vê o talho e comenta:
- Só você consegue certas coisas.
Algo me diz que não foi elogio.

28 de agosto de 2012

O preço da vaidade

Na escola tinha a menina empreendedora. Sempre aparecia com alguma coisa para vender aos colegas. Lembro bem das unhas postiças feitas de carretel de linha que, naquele tempo, era de material plástico e não de papel como hoje.
A gente comprava as unhas, compridíssimas por sinal, pintava da cor que queria e saia para arrasar. Tudo pela quantia equivalente a um real nos dias atuais.
Um único porém. Por falta de um recurso melhor, as unhas eram presas com chiclete. Depois de algum tempo o acessório ia embora e ficava só o chiclete mesmo. E mastigado.

27 de agosto de 2012

A última coisa que eu e minha mãe fizemos juntas foi ir ao cinema. Pouco tempo depois ela adoeceu de vez. Nada mais natural que terminar nossa história assim, pois foi com ela que aprendi a gostar da sétima arte ainda bem pequena.
É nela que penso quando assisto a Rosa púrpura do Cairo, do Woody Allen. Aquela parte em que Cecília confessa que vai ao cinema para esquecer as tristezas. 
Mãe possuia conceitos bem à frente do seu tempo, mas teve as asas cortadíssimas pela criação, pelo casamento, enfim. Às vezes acho que ela viveu uma vida que não era dela. Viveu apenas a vida que era possível dentro daquele contexto.
Vejam só, essa é uma análise minha. Ela nunca falou nada sobre isso.

14 de agosto de 2012

Navegar

É preciso ser feliz para esquecer
que a vida é esse prego na carne.
a conta para pagar
o desamor
(o desamor não mata ninguém -
ele disse e eu repeti
tantas vezes que perdeu o sentido)
é preciso perder o sentido
para ser feliz
larga a vida
vai ler um livro
Navegar
quando preciso


(Anne Cerqueira, agosto de 2012)

11 de agosto de 2012

10 de agosto de 2012

O novo

Sai da internet e vai viver é o novo desliga a televisão e vai ler um livro.

8 de agosto de 2012

Traquinagem

Minha filha avisa lá da cozinha:
-Mãe, Luca derramou água no chão.
Eu:
- Você não é o adulto que está tomando conta dele?
- Sou. Mas tenho duas mãos e ele tem dez.

2 de agosto de 2012

1 de agosto de 2012

Na sala de espera do médico uma criatura começou a falar super mal das pessoas que "expoem a vida no Facebook".
- Às vezes ACHO que esse povo não tem a menor noção - vociferou
Eu com meu botões:
- Graças a Deus que ela não sabe que tenho um blog. Senão teria certeza.

30 de julho de 2012

Essa foi fácil

Estava assistindo a terceira temporada de Glee, com bastante atraso, diga-se de passagem, quando alguém me desafiou:
- Resuma seu tempo de escola em uma frase.
- Nunca fui rainha do milho.

E tenho dito.

29 de julho de 2012

- Eu queria muito ser cantora
- E o que a impediu?
- Minha voz.

(Patricia Clarkson, Meus dias no Cairo)

Ah, Matt Bomer!

                                            

  Seu fofo

28 de julho de 2012

26 de julho de 2012

As fotografias apontam para mim

As fotografias apontam para mim
o silêncio do meu tio
aquele que morreu jovem
no caminho onde hoje tem uma cruz.
Mãe dizia:
- Seu avô mandou fazer
E eu entendia:
Para diminuir a dor
Para disfarçar a dor

Vó Maria, devota 
de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.
Não conheci.
- Era alta, mãe?
- Era pequena?
- Era suave ou severa?
- Tocava piano? Falava grave?

(Nossa Senhora do Pé de Socorro, dizia a menina
diante da imagem que restara
daquela vida tão breve)

Na casa de vó Zefinha, os bancos de madeira.
O quarto dos santos, a altivez maiúscula.  
As flores
que não esqueço
os pequenos degraus antes da soleira

Figos. Frio. Gravuras.

Eu mesma. Em antigos documentos

atestados de residência. 

As fotografias apontam para mim.
Sutis assinaturas.

(Anne Cerqueira, Feira de Santana, julho de 2012)

25 de julho de 2012

Pirraça

Ma-mãe
Ma-mainha
Pa-pai
Ti-tia
Á-gua
Cabou
Não
Nenê
Au-au

Está de pirraça, Luca? Então diz polpeta.
- Peta.

Sei não, mas aposto como esse menino ainda fala inconstitucionalissimamente antes de falar vovó.

19 de julho de 2012

Pessoas

Depois elas não entendem quando a gente se afasta.

18 de julho de 2012


Telefone, esse suplício

Disse para ele que detesto gente que conversa ao telefone como se estivesse com pressa e doida para cortar a ligação. Ele riu. Na hora. Então percebi que estava falando de mim mesma.

17 de julho de 2012

6 de julho de 2012

Post novo?

Tem, mas tá em falta.

2 de julho de 2012

Anne

Meus pais moravam vizinho a um padre e a irmã dele. Mamãe não os conhecia direito, mas achava o nome dessa senhora sonoro e delicado. Então resolveu colocá-lo em mim, quando nasci, em um dois de julho chuvoso como hoje, há um tantinho de tempo.

29 de junho de 2012


Dizem que Fernando Pessoa costumava se sentar às margens do rio Tejo para sentir saudade dos lugares que não conheceu

28 de junho de 2012

Cinco minutos

Você passa a vida inteira se escondendo do sol e o que ganha com isso? Uma pele de bebê lisa e macia? Que nada. Uma baita deficiência de vitamina D. Agora tem que tomar remédio. Sol também, segundo os mais velhos. Pelo menos cinco minutos por dia.

26 de junho de 2012

24 de junho de 2012

A amiga

A criatura sabia que tínhamos o hábito de dormir cedo. Oito da noite já estava tudo apagado e os cachorros soltos na varanda. Mesmo assim, quase todos os dias, bem depois desse horário, ela costumava aparecer para usar o telefone. A família morava em outra cidade. Tempos antes da internet.
Uma vez, não sei por qual motivo, ninguém pode levá-la até o portão.
- Você fecha? É só bater
- Pode deixar.
No dia seguinte acordamos cedinho com a campainha tocando. Era o vizinho da direita para avisar que os cachorros estavam na rua. E "o mais estranho", o portão tinha passado a noite toda escancarado.

Atrevida

Lidar com meu pai nunca foi fácil. Tudo era errado. Tudo era proibido. Não se podia quase nada. Quase nada mesmo. Só nos demos melhor quando cresci porque percebi que não tinha jeito. Ele também já estava longe e creio que finalmente se convenceu que eu não daria trabalho. Antes vivia repetindo: Essa baixinha é atrevida!
Acho que tentava ser. Infelizmente nem sou.
Nem sou mais, seu João.

23 de junho de 2012

O velho João

- Pai me dá dinheiro
- Para que?
- Para ir ao cinema
- Cinema fazer o que?
- Ver filme
- Filme tem na televisão. De graça.

Ele costumava aumentar a idade em uns cinco ou seis anos e se divertia com isso.
- Se contar a verdade vão achar que estou velho. Se mentir vão dizer: "Nossa, seu João, como o senhor está conservado".

Um dia cheguei em casa com uma receita de pudim de abóbora
- E é bom? - duvidou
- É sim. Tem leite condensado, manteiga, queijo ralado...
- Ah, minha filha. Desse jeito até lama fica gostosa.

22 de junho de 2012

Calendário

Um dia de repente tudo passou.
Séculos, horas, meses. Como se fossem nada.

E você não viu

Perdida no boninal
com seu vestido de areia e bruma, menina.
Como se fossem nada,
você não viu

As pequenas flores pálidas.

Inútil chorar agora o perfume derramado

(Anne Cerqueira, junho 2012)

16 de junho de 2012

15 de junho de 2012

A casa da vizinha está cheia de crianças e tem uma adolescente tomando conta delas. Parece que é prima ou irmã. Daqui ouvi a criatura reunindo a garotada e propondo a brincadeira:
- Quem ficar mais tempo calado ganha um doce.

Ahahah

12 de junho de 2012

Santo Antonio padroeiro
que já casou tanta gente...
Resultou: morreu solteiro
que santinho inteligente!

10 de junho de 2012

Faxina

Faxina é igual a qualquer outro tipo de atividade física. Você não quer fazer de jeito nenhum, mas depois que começa baixa uma sanha assassina que lhe impede de parar. Há sempre um cantinho merecendo sua atenção. Mesmo que tenha passado seis meses banhado em poeira, agora precisa brilhar de limpeza. 
Problema é quando você não é boa de ouvir conselho. A criatura disse: manuseie o produto com luvas e mantenha os pés bem protegidos. Um pouquinho só basta, ele espuma bastante e é forte. Então você só se lembra disso depois, quando suas mãos e pés estão tomados por uma vermelhidão terrível e você é forçada a usar pomada anti-inflamatória.
O pior é que o piso nem ficou essas coisas todas. E é justamente olhando o resultado de tanto esforço, agora, que me convenço do seguinte: para tudo nesse mundo é preciso talento.

4 de junho de 2012

Cinema


Dormir, não durmo. Mas chorar, sempre.

3 de junho de 2012

Zzzzzzzzzzzz


Comentei com meu marido que acho um sacrilégio sair do cinema antes do filme acabar. Provavelmente por isso não arrisco muito na hora de escolher o que assistir. 
- Só deixei a sala de projeção com o filme pela metade duas vezes na vida. E você?
Ele:
- Nunca. Durmo antes.

28 de maio de 2012

Nunca te vi, nunca te amei

Quando era menina gostava de me corresponder com pessoas desconhecidas. Amigos de amigos, parentes de amigos. Creio que era comum lá pelos anos setenta ou oitenta. Acho que por isso não estranhei quando Gê pediu que escrevesse para M. porque ela estava passando por problemas e precisava de ajuda.

- Vamos criar uma rede de apoio -  ele sugeriu.

Escrevi e me arrependi assim que recebi a resposta. O texto mais irado e agressivo que já li. Nunca na vida testemunhei tamanha fúria. Fiquei tão chocada que não comentei o caso com ninguém e segui adiante sem dar assunto.

Muito tempo depois recebi outra carta de M. Agora com um tom completamente diferente. Ela guardou meu endereço por uns três anos até resolver entrar em contato e pedir desculpas. Reconheceu a reação exagerada, disse que se sentia mal com o episódio e se mostrou aberta a aceitar a amizade que ofereci um dia. (Vejam bem, apesar de reagir mal, ela guardou a carta).

Não comoveu. Rasguei o papel, coloquei uma pedra em cima do caso e segui novamente adiante. Até que o mundo girou outra vez e a ficha caiu.

No meu mundinho bonitinho não entendi que o horror não era dirigido a mim. Não entendi que ali estava a manifestação do problema em sua forma mais pura e que se eu quisesse realmente ajudar, tinha que escrever novamente e novamente e novamente. Depois, quando ela retrocedeu, poderia ter respondido pelo menos por educação, mas não fiz. Bem mais fácil me indignar e pronto.  Perdi. Duas vezes.

No fim, quem demonstrou ter coragem foi ela.

21 de maio de 2012

Bye

Donna Summer. Robin Gibbs. Adeus anos oitenta.

15 de maio de 2012

Vingança

Não sei quantas vezes minha amiga F. chegou de Salvador, passou lá em casa e pediu: faz aquela sopa portuguesa que tua mãe servia. A sopa é de uma simplicidade estupenda e fica bem bacaninha. Só não é portuguesa. Minha mãe falava isso de brincadeira porque foi uma das muitas receitas que ela inventou ou adaptou. Algumas davam certo outras não a exemplo de tudo nessa vida. Também convenhamos que era preciso muita criatividade para alimentar seis filhos e os amigos, tempo em que a casa vivia cheia.
F, minha flor, nunca te contei isso - a sopa de portuguesa não tem nada. É feirense da gema. Mas quem mandou não ler o blog? Vai continuar sem saber.

13 de maio de 2012

Agruras na cozinha

Um pudim de leite condensado é a prova inequívoca que nada nesse mundo pode ser perfeito. Doce delicioso e tão fácil de fazer que até eu consigo, o  problema é a tal da calda de açúcar queimado que pede toda uma ciência e que de queimado mesmo só tem o nome porque se tostar um pouquinho amarga tudo. Vocês sabem. Aliás,  queimados mesmo só meus dedos no fim do processo. 
Minha filha mais velha não pode vir para Feira de Santana hoje e me ligou cedinho.
-Tá fazendo o que?
- Um pudim....
- Oxe, que novidade é essa?
- É dia da mães.
Ela com voz de me engana que eu gosto:
- Tá, que horas Marcel (o irmão) vai passar por ai?
Filhos. E a ciumeira.

7 de maio de 2012

5 de maio de 2012

Mulher maravilha


Nem o cabelão, nem a cintura fina. Eu queria o avião invisível.

1 de maio de 2012

Família

Me atrapalho tanto. Com tudo. Conto aqui no blog para achar graça porque no fundo detesto ser assim. Mas é mal que vem de família. Das histórias da família.
Tio ensinando o filho a soletrar. C-o-c-a-d-a. Confeito.
Tia corrigindo a filha que falou "nubre" em vez de nuvem. É nuvi, menina.
Prima se encostando na parede: Estou com tanta sede que sou capaz de dormir em pé.
Essa semana minha filha pediu: mãe faz barulhinho de chuva.
-É bolinho de chuva e até já perdi a receita.
Ela:
- Pega a fatia de pão molha no leite e depois passa no ovo batido.
- Ah, é empanada, sua tonta!
Não era.
Era rabanada. Guloseima que aqui no Nordeste tem o singelo nome de fatia de parida. 

30 de abril de 2012

Vida moderna

Você programa a televisão para desligar em uma hora. A tv desliga, mas você não.

22 de abril de 2012

É preciso viver, você sabe

É preciso viver, você sabe
apesar do cansaço
essa lâmina.
A bagunça na casa
dança indecifrável.
Procuro a carta
documento de compra e venda
vestido do primeiro aniversário
retrato de mãe e pai
resquícios do que fui algum dia
sem pressa.
É preciso viver, você sabe.
Talvez quando tudo cesse.
Talvez quando tudo acabe.

Anne Cerqueira, abril 2012

15 de abril de 2012

8 de abril de 2012

7 de abril de 2012

Tratamento de choque

Nada de cachorro, gato, papagaio ou periquito. Eu queria um carneiro de estimação. Mãe dizia que não era o tipo de bicho para se criar em quintal, só em chácara ou fazenda, e não dava bola. Até que um dia, voltando da aula, vi um filhote muito fofo no jardim de outra casa. Tudo bem que era uma casa enorme, mas  me senti no direto de pressionar dona Marlene. Foram meses de encheção de saco. O problema é que minha mãe sempre foi boa de argumento e quando perdeu a paciência me chamou para conversar. 
- Aninha, sabe por que você não pode criar um carneiro? Porque quando ele crescer, seu pai vai colocá-lo direto na panela. 
Doloroso foi imaginar isso:
Se transformando em quase isso:

Nunca mais toquei no assunto.

6 de abril de 2012

Tomorrow, tomorrow

Lá se vai o tempo da loirice. Agora sou a mais nova ruiva on the block, que nem Annie, a orfã do musical do tomorrow. O sol vai sair amanhã. Então você tem que aguentar até amanhã.
Lembro de minha mãe cantando uma daquelas marchinhas antigas de carnaval que ela mudava e colocava o nome da gente: Diga quem quiser, Anne é boneca. Dos olhos cor de sonhos, vestido de ilusão.
A boa é que Rufus Wainwright está com música nova para minha graça e alegria nesses tempos tão magrinhos de tudo.
No mais, Páscoa sem chocolate, mas com muita moqueca de bacalhau. Antes se queria viver trinta anos a cem. Hoje todo mundo quer a eternidade em vida e o veneno está nos pratos.


Sim, até eu que sou boneca sei: muita lenga lenga nesse blog. Ass. Annie.

4 de abril de 2012

Feliz aniversário, Bob


Obrigada Luciana, por me lembrar.

(Também nessa data, mas em outra dimensão: Cazuza e Heath Ledger)

1 de abril de 2012

Sem muitas delongas


Praticamente tudo que aprendi criando três filhos não serve no tempo do meu neto. O que curava antes, hoje não faz efeito. Na época em que informação chega e muda a cada segundo você não pode dizer:
- Põe uma fitinha vermelha na testa dele para passar o soluço.
Sem parecer maluca.
Quando os meninos nasceram a experiência de minha mãe ainda contava. Tanto que ela era requisitada para cuidar de absolutamente todos os netos assim que saiam da maternidade. Era ela quem dizia:
- Lava o cabelo desse jeito para não cair água no ouvido.
Ou:
- Dá três gotas desse remédio que a cólica passa.
E passava.
Não havia colher que muda de cor para indicar se o alimento está muito quente. E coisas do gênero.
Na hora do banho era o cotovelo que media a temperatura da água.
Comida também não matava como mata hoje.
Ninguém suspeitava de uma laranja lima.
Minha mãe parou no segundo grau. E até 2004, o último ano conosco, nunca a vi em frente a um computador.
Aposto que nunca soube o que era um site de busca.
Ela se especializou em ser o que era. Sem muitas delongas.

31 de março de 2012

Trocando de biquini sem parar

Quando eu era mais jovem e mais cruel desconfiava horrores de quem errava letra de música. Uma vizinha  era mestre nisso. Acho que a criatura não conseguia cantar Atirei o pau no gato sem confundir absolutamente tudo. (A última lembrança que tenho dela nem tem a ver com isso. Foi a primeira pessoa que chegou em minha casa no dia em que minha mãe morreu - embora a gente já não fosse muito próxima e não morasse na mesma rua há séculos).
Voltando para as letras de música. 
Tempos depois e o que acontece? Sua vez de assassinar a literatura musical. Tudo bem que não canto "trocando de biquini sem parar" no lugar de "tocando BB King sem parar". O clássico.
O problema é que meu acervo de galinha pintadinha é restrito e quando Luca vem aqui para casa fico puxando da memória as canções de ninar do meu tempo. 
O que ganho com isso? Comentários do tipo:
- Eita, errou tudo de novo!
Ou:
- Peloamordedeus,  misturou pelo menos três músicas ai.
...
...
...
Meu povo, para que tanta pressão? Ele só tem onze meses. Não entende nada mesmo.

29 de março de 2012

Borracha

Naquela fase de sair deletando tudo para ver se renova. Falando nisso sabem quanto tempo se gasta para apagar 37 mil e-mails? 2 horas, vinte e dois minutos e um segundo.
Contei.

28 de março de 2012

Aquela vibe Jota Quest

Dias melhores para sempre. Por favor. 
Queria ilustrar a frase com uma foto bacaninha, mas perdi TUDO que estava arquivado no computador. Tanto tempo jogado fora em pesquisas de imagens no Google. Mas não há queixa. Para que serve o tempo se não for para ser gasto à toa, Cecilia? ( Faze-te sem limite no tempo)
Mais Cecília Meireles: "Pergunto-te onde se acha a minha vida".
Eu também. Mas sei que é normal não saber. Pelo tanto que se quer. 
Caetano agora: "Eu sempre quis muito. Mesmo que parecesse ser modesto".

Às vezes não dá a impressão que tudo nesse mundo já foi dito?!

27 de março de 2012

A pessoa esperta

São dois prédios colados que pertencem a mesma empresa de serviços médicos. EU SEI que em um funciona o  laboratório de análises clínicas e no outro o banco de sangue. Marido me deixa lá de manhã bem cedo e logo me dirijo para onde tem um grupo esperando. Mais de uma hora depois chega o funcionário com a chave e a pergunta.
- Quem vai fazer exame de sangue?
Penso: "até que enfim", levanto a mão e percebo que sou a única com o gesto.
- O laboratório é do outro lado, senhora. E está aberto desde as cinco e meia.
Agora respondam. Tenho jeito?

Happy ending


 I feel as if I'm wasting,
And I've wasted every day

A little bit of love
Little bit of love 

(Mika)

25 de março de 2012

Remedinho

Moro nessa rua há quase oito anos, mas sou difícil de prestar atenção nas coisas. Agora estou vendo um pouco mais de movimento porque fico na varanda ninando meu neto quando ele vem para cá. Acontece que acabei reparando na vizinha  da esquina que passeia com o cão diariamente ao meio dia. Ela aparenta uns setenta anos.
Eu para Helio: 
-Não é um horário muito quente para sair de casa não?
E ele:
- Amor, olha a sacola que ela leva debaixo do braço. São garrafas. A criatura está indo buscar cerveja. O poodle é só disfarce.
Outro dia ela passou e Helio falou de brincadeira:
- Vai na farmácia dona Fulana?
E a vizinha sem pestanejar:
- Vou, meu filho. Estou indo buscar o remedinho do almoço, senão a gente não aguenta.

24 de março de 2012

Desembestando

Meu neto às voltas com uma bola oval, coitadinho. Ele chuta para um lado e ela vai para outro. Todo mundo acha graça e fala mal da bola. Até que alguém lembra:
- Ela custou um real e vocês querem que seja redonda?

Mais de vinte dias sem postar e agora desembestei. 

Não é só ouvir

É por em prática:




Então desencana
Não generaliza
Isso não vale a pena
Não vai deixar isso te abalar
Desencana
Não generaliza
Isso não vale a pena
Não vai deixar isso te abalar
Deixa pra lá, esquece e abstrai
Releva e põe uma pedra em cima disso aí e vai
Deixa pra lá, esquece e abstrai
Releva e põe uma pedra em cima disso aí e vai
(Abstrai, Autoramas. Cd: Música crocante)

Sábado

Chico César cantando Beradêro: Os sem amor, os sem teto, os sem paixão, sem alqueire. No peito dos sem peito uma seta. A cigana analfabeta lendo a mão de Paulo Freire.

(A professora que ensinava os conceitos de Paulo Freire era a mesma que obrigava os alunos a usarem crachá pendurado no pescoço. Quem esquecia de tirá-lo depois da aula era vaiado por outros estudantes na cantina).

O cheiro ruim que fica na xícara quando o café acaba.

Pelo fim das bizarrices no Facebook. Não preciso de fotos de bebês mortos no lixo e animais escalpelados para saber que o ser humano é uma droga.

Encontrei um amigo ontem na rua. Ele tentou fazer graça: Está perdida? Quase respondo a verdade: Desde que nasci.

(Evitando escrever porque ando triste há séculos. Porém os dias ainda são os mesmos de antes. Nada mudou).

1 de março de 2012

Poema

quero te dar um presente, meu amigo
aquele velho livro ou disco
porque aqui tudo é velho
até mesmo o que acaba de sair do forno
já sai condenado. Vou ler um dos meus poemas
preferidos
para você achar que a vida tem jeito
e só os poetas sofrem
como Maiakovski
ou Bukowski que queria derreter a morte
com versos
como se derrete manteiga
e ele nem tinha ilusões, veja só
sinto pena.
De mim e de você que nada somos
e desafiamos a morte no supermercado.
Quero te dar um presente, meu amigo.
Talvez uma quantia em dinheiro
que te sustente na velhice se você chegar lá
envergado desse jeito
inútil desse jeito
da mesma forma que eu
que já vivi noventa em quarenta anos
(e foram só meses)
e nem tenho nada para te oferecer
pois tudo é gasto.Vamos ouvir música
comer bobagens
atravessar a rua sob o sol de meio dia
porque é isso que nos resta. Meus filhos vivem
a vida deles. Me beijam. Eu digo: podem ir,
mas é mentira.
Sou infantil, egoísta e confusa e quero te dar um presente, meu amigo
para que me odeie profundamente
e diga:
não sei o que fazer com isso. E assim seremos iguais mais iguais que os outros.
Numa irmandade que não nos salva
nem preserva
não é bondosa
nem misericordiosa
nem má. Não existe por códigos especiais e secretos
nem nos torna especiais ou melhores
ou piores
ou diferentes.
Não nos subtrai, nem acrescenta. Nem nos pede retorno.
Toma é tua essa pedra.
Meu amigo, um presente de coração.

(Anne Cerqueira, fevereiro de 2012)

29 de fevereiro de 2012

Ação e reação

Pai e mãe estavam separados há muito tempo quando ele finalmente tomou coragem de nos apresentar a nova esposa. Nova é maneira de falar porque quando digo muito tempo estou dizendo muito tempo mesmo.  Então os dois vieram de Alagoas para cá e foram visitando um filho de cada vez. 
Lembro da gente em uma sorveteria, tudo muito bom e civilizado. Esse encontro também abriu as portas da casa deles em Maceió. Numa das idas até lá meu pai confessou que teve medo da minha reação. Ele achou que eu iria tomar as dores de minha mãe. "Vocês sempre foram tão ligadas". Para surpresa geral, pareci afável e amistosa.
Não podia responder pelo resto da família e também não tinha interesse de magoar o velho contando  realmente o que pensava. Por isso fiquei calada e não disse a verdade:
- Não há motivo para ressentimento porque nunca quis que vocês voltassem. Nunca sofri com a separação. Sabe? Não é que seja fácil, mas está muito melhor assim.

28 de fevereiro de 2012

Sem título

Agora que sou avó, sinto muita falta do tempo em que as avós sabiam tudo.


Ou quase tudo

27 de fevereiro de 2012

In real

A louca das dores musculares baixou em mim outra vez. Mal consigo mexer o pescoço. Nenhum Oscar para Brown. Não esperei, dormi sem ver quase nada porque ia acordar cedíssimo hoje. Gwyneth e Jennifer Lopez lindíssimas. E opostas. Jean Dujardin agradeceu o prêmio de melhor ator com uma frase em francês. Achei o máximo quando vi hoje no telejornal. (Como dirão alguns de vocês: criatura provinciana essa Belas!). No mais, a vida segue como sempre. In real. E uma hora atrasada. Ou não. Nem sei mais.

Por que você tem um blog? Ah, porque adogo falar sozinha.

24 de fevereiro de 2012

Parênteses

(Minha vida é uma coisa tão espetacular de agitada que hoje é sexta-feira e eu estava crente que era segunda)

Bonsoir John-John

Primeiro estranhei a França fazer música para uma personalidade de outro país.
Depois entendi que a canção falava especificamente da morte do presidente Kennedy e dizia para o filho dele, na época com três anos: Agora que seu pai saiu em viagem e você é o homem da casa é preciso sabedoria. Não há tempo para guerra. Não chore mais, boa noite John-John.... (Pronto, coração mole totalmente derretido)
E por fim achei linda a interpretação delicadinha da France Gall.

20 de fevereiro de 2012

Yes, I weigh more than you....

Éramos um grupo de mulheres comendo pipoca e jogando conversa fora, quando uma criatura começou a se gabar de ter voltado de férias sem ganhar um grama sequer. No meio da conversa, ela emenda:
- Meu marido não gostaria que eu engordasse. Seria capaz de me largar.
Estava pensando no absurdo da afirmação e que mandaria para o espaço alguém que só me quisesse pela aparência, quando o papo se voltou para mim, claro. A gorda do grupo. A criatura perguntou se eu ainda estava de dieta, disse que não, etc e tal. Ai vem a alegação de sempre, preconceituosa, batida e sem um mínimo de imaginação:
- O importante é a gente se sentir bem, não é? Mas é preciso se preocupar com a saúde.
Enchi a mão de pipoca só para provocar (nunca disse que era madura) e fui cuidar da vida.
Nenhuma das cirurgias que fiz até hoje teve relação com meu peso.

Yes. No.

19 de fevereiro de 2012

Fatos e fotos


Afoxé Filhos de Gandhy, no carnaval de 1950, tomando o bonde no Largo dos 15 Mistérios, em Salvador. Foto de Antonio José Brandão Lima, via Facebook.

e a nova geração:


Gandhy mais lindo, vovó

Sem jeito

Escolho uma toalha de banho tinindo de linda para meu neto. Do Mickey. E o que acontece? O bebê fica cheio de fiapo azul pelo corpo. Tudo bem, perfeição é uma coisa que não existe mesmo. Sem contar que azul é cor da sorte.
Outro dia minha nora chega aqui em casa toda contente com a  fantasia do bebê para o carnaval. Pede para eu segurá-lo enquanto ela tira as fotos que irão parar no Facebook. Em um segundo arranco a gravata borboleta do palhacinho. Justamente O DETALHE da roupa toda.
Não dá mais para minimizar. É isso que você pensou: não acerto uma.

18 de fevereiro de 2012

A tal da festa

e a turba ensandecida:


Um beijo beliscão para quem me encontrar

Aninha na folia

Estava tudo como sempre no trabalho quando entra um grupo de outro setor chamando a gente para curtir o carnaval. Ali mesmo. Todo mundo fantasiado, com apitos e um trio elétrico de pilha (conhecido também como rádio). Vamos lá, é festa minha gente. Juro que ia me jogar embaixo da mesa, mas ouvi a frase mágica: vai ter lanche. Foi assim que minha sexta-feira reviveu o encanto dos antigos carnavais pelo menos por vinte minutos: eu me escondendo atrás da turba, devorando pãezinhos de queijo e guardando chocolate no bolso para o turno de hoje. 
Como tudo nesse mundo tem que ter um pouco de drama senão fica sem graça, uma queixa: Ninguém pode nem trabalhar em paz no feriadão, meodeos!

17 de fevereiro de 2012

Um segundo

Tempo suficiente para esquecer o que acabei de lembrar. Sem foco algum, meodeos. Penso em sair distribuindo post-its pela casa ou comprar um gravador para ajudar a memória, mas com certeza o perderia em algum canto. Coisa que vem de longe. Minha mãe costumava procurar objetos ou arrumar a casa no escuro. Só depois lembrava de acender a luz. A-cre-di-tem. Uma figura.
Mudando de assunto. Confete não, mas já fui em casamento com máquina de bolinha de sabão para saudar os noivos no final e foi uma loucura. A mulherada toda correndo para não estragar a chapinha. Se a moda pegar mesmo, vai ser complicado para as adeptas da calorimetria como eu. (Drama: se soubesse dessa prisão, nunca teria renegado meus cachos).
Mudando de novo. Ontem foi um dia bacana de certa forma. Canalizei sentimentos ruins para coisas boas e perdi bastante peso. Nos ombros.
Ontem também. Um colega de trabalho:
- Eita, já é carnaval outra vez.
E o outro:
- Ainda bem que a gente morre, não é? Já pensou aguentar isso pela eternidade?
Nada contra nada. Mas eu ri.

15 de fevereiro de 2012

Hoje

Tentando voltar para a dieta. Mozarela de búfala. Tomate cereja. O medo é light.
Fotos sépia

Aqueles dias em que você não consegue distinguir ansiedade de angústia.

14 de fevereiro de 2012

Amassada. Vai com roupa amassada

Muitos dias antes de qualquer evento que a gente pretenda ir, começo a querer saber de meu marido:
- Já pensou na roupa que vai usar?
Ainda argumento:
- É melhor resolver logo, talvez tenha alguma peça para mandar lavar ou passar.
E ele sempre com a mesma resposta:
- Vejo isso depois.
Mas o problema não é nem o "vejo depois". É saber que em cima da hora, quando eu estiver me arrumando, ele vai abrir o armário e perguntar na maior cara de pau:
- Amor, com que roupa eu vou?

13 de fevereiro de 2012

Máquina do tempo

- Você sumiu esses dias. Andei lhe procurando e nada.
- Ah, eu estava passeando...lá pelas décadas de oitenta, noventa:



Tinha esquecido que a voz do Boy George era tão bonita.

12 de fevereiro de 2012

Aquela que foi sem nunca ter sido

Nunca fui pedida oficialmente em casamento. Mas uma brincadeira me acompanhou a vida toda, envolvendo o primo de meu pai, Paulo Preto. Ele tinha vinte e pouco anos e eu uns três, lá em Maribondo, onde a gente morava no interior de Alagoas.
Quando qualquer pessoa perguntava:
- Você é o que de Paulo?
 Em vez de prima, eu dizia:
- Noiva.
E assim ficou.
Quando a gente veio para a Bahia e se afastou de boa parte da familia, sempre ouvia meus pais contando essa história, mas não lembrava de nada, nem sabia se Paulo dava importância ao fato. Até que um dia - eu adulta, já casada e com filhos, recebi um telefonema dele.
Disse que tinha encontrado meu pai em Maceió, onde ele também estava morando, e pediu meu telefone. Lembrava muito de mim: uma garotinha sapeca que vivia pra cima e pra baixo com um urso azul de plástico e o fazia comprar pipoca todos os dias (ah, esse meu charme sempre a serviço da gastronomia). Casou, descasou, teve filhos, netos e gostaria muito de me ver, pois eu era como uma filha também. Marcamos. No ano seguinte quando eu fosse em Alagoas visitar meu pai. Peguei telefone e endereço.
Como uma canceriana que se preze, achei o gesto dele muito bonitinho e uma chance ótima de resgatar o passado. Passar a limpo o que passou é meu nome e sobrenome. Mas não deu. Paulo morreu alguns meses depois do telefonema. Meu pai se encarregou de avisar. E assim como muita gente é até viúva de marido vivo, acho que me senti uma espécie de viúva também - meio Porcina de Roque Santeiro: aquela que foi sem nunca ter sido.

11 de fevereiro de 2012

Mabaços

Um  dia a moça que trabalhava lá em casa chegou chateadíssima da padaria, puxando meu filho e minha filha mais nova pelas mãos.
- Dona Belas, acho que a vizinha ofendeu os meninos. Ela perguntou se eles eram "mabaços". Disse que não e que ia dar queixa para a senhora. Já viu uma coisa dessas?
Eu não fazia ideia do que era mabaço e liguei para minha mãe que explicou:
- Mabaços são irmãos gêmeos. A vizinha achou os meninos muito parecidos, foi isso.
Ontem lembrei dessa história enquanto tomava conta de meu netinho (filho do meu filho). A tia chegou - sempre de cabelo preso - e o nenê se jogou nos braços dela cheio de alvoroço.
Elisa para não perder a chance de me zoar saiu com essa:
- Tá vendo como ele gosta mais de mim? Sou a parente preferida.
Foi bem nessa hora que o bebê olhou para ela e balbuciou:
- Pa-pá!

7 de fevereiro de 2012

Soberba

O homem chega e fala um monte de coisas negativas sobre si mesmo. Que é vaidoso, egoísta e outros adjetivos do gênero, mas luta diariamente para mudar e se tornar uma pessoa melhor. O jeito como ele diz isso, a forma de sorrir, possuem o efeito de colocá-lo em um patamar acima dos outros. É implicitamente a pessoa que teria uma consciência que falta aos demais. Um exemplo. Como se a gente fosse o que fosse por opção ou desleixo. Então fico pensando que poucas coisas podem parecer tanto com soberba nesse mundo do que listar os próprios defeitos.

6 de fevereiro de 2012

Destino



Salvador Dali e Walt Disney. 1946/2003
6 minutos.
Se a animação não fosse maravilhosa, a música já valeria a pena.

5 de fevereiro de 2012

Almoço de domingo

Lá vem mais uma porção de pirão de leite. Carne do sol com capa de gordura, aipim frito no ponto. Paçoquinha, farofinha. Vinagrete que é bom, nada. Até ai tudo bem. Mas basta alguém ameaçar pegar a manteiga de garrafa para um engraçadinho dizer:
- Eita que tem gente querendo se matar hoje.

Pânico?! E você nem viu o povo do Facebook

Gostaria de saber por que domingo sempre parece um dia mais quente que os outros. "Esse sol dá uma vontade de ser feliz", costumava dizer uma amiga. Não sei. Filtro de proteção fator 1030. Falando em proteção, as pessoas estão com medo de sair de casa por causa da greve dos policiais militares e a onda de violência na Bahia. Feira de Santana parou quinta-feira. Comércio, escolas, repartições. Tudo fechou bem mais cedo e a gente se escondeu em casa. Meu irmão estava na rua na hora que começou a correria. Pessoas falando em saques, tiroteios e arrastões. "Parecia filme sobre o fim do mundo. Um pânico só". Pensei: E você nem viu a agonia no facebook.
Todo mundo saiu telefonando pra avisar todo mundo. Ligo pra minha filha mais velha e peço aflita:
-Olha, não sai de casa hoje pelo-amor-de-Deus.
E ela:
- Mas mãe....eu nem moro ai. Estou há oitenta quilometros de distância!

4 de fevereiro de 2012

Tá quente lá fora?


Gente, desculpa o trocadilho, mas eu poquei de rir.