31 de março de 2012

Trocando de biquini sem parar

Quando eu era mais jovem e mais cruel desconfiava horrores de quem errava letra de música. Uma vizinha  era mestre nisso. Acho que a criatura não conseguia cantar Atirei o pau no gato sem confundir absolutamente tudo. (A última lembrança que tenho dela nem tem a ver com isso. Foi a primeira pessoa que chegou em minha casa no dia em que minha mãe morreu - embora a gente já não fosse muito próxima e não morasse na mesma rua há séculos).
Voltando para as letras de música. 
Tempos depois e o que acontece? Sua vez de assassinar a literatura musical. Tudo bem que não canto "trocando de biquini sem parar" no lugar de "tocando BB King sem parar". O clássico.
O problema é que meu acervo de galinha pintadinha é restrito e quando Luca vem aqui para casa fico puxando da memória as canções de ninar do meu tempo. 
O que ganho com isso? Comentários do tipo:
- Eita, errou tudo de novo!
Ou:
- Peloamordedeus,  misturou pelo menos três músicas ai.
...
...
...
Meu povo, para que tanta pressão? Ele só tem onze meses. Não entende nada mesmo.

29 de março de 2012

Borracha

Naquela fase de sair deletando tudo para ver se renova. Falando nisso sabem quanto tempo se gasta para apagar 37 mil e-mails? 2 horas, vinte e dois minutos e um segundo.
Contei.

28 de março de 2012

Aquela vibe Jota Quest

Dias melhores para sempre. Por favor. 
Queria ilustrar a frase com uma foto bacaninha, mas perdi TUDO que estava arquivado no computador. Tanto tempo jogado fora em pesquisas de imagens no Google. Mas não há queixa. Para que serve o tempo se não for para ser gasto à toa, Cecilia? ( Faze-te sem limite no tempo)
Mais Cecília Meireles: "Pergunto-te onde se acha a minha vida".
Eu também. Mas sei que é normal não saber. Pelo tanto que se quer. 
Caetano agora: "Eu sempre quis muito. Mesmo que parecesse ser modesto".

Às vezes não dá a impressão que tudo nesse mundo já foi dito?!

27 de março de 2012

A pessoa esperta

São dois prédios colados que pertencem a mesma empresa de serviços médicos. EU SEI que em um funciona o  laboratório de análises clínicas e no outro o banco de sangue. Marido me deixa lá de manhã bem cedo e logo me dirijo para onde tem um grupo esperando. Mais de uma hora depois chega o funcionário com a chave e a pergunta.
- Quem vai fazer exame de sangue?
Penso: "até que enfim", levanto a mão e percebo que sou a única com o gesto.
- O laboratório é do outro lado, senhora. E está aberto desde as cinco e meia.
Agora respondam. Tenho jeito?

Happy ending


 I feel as if I'm wasting,
And I've wasted every day

A little bit of love
Little bit of love 

(Mika)

25 de março de 2012

Remedinho

Moro nessa rua há quase oito anos, mas sou difícil de prestar atenção nas coisas. Agora estou vendo um pouco mais de movimento porque fico na varanda ninando meu neto quando ele vem para cá. Acontece que acabei reparando na vizinha  da esquina que passeia com o cão diariamente ao meio dia. Ela aparenta uns setenta anos.
Eu para Helio: 
-Não é um horário muito quente para sair de casa não?
E ele:
- Amor, olha a sacola que ela leva debaixo do braço. São garrafas. A criatura está indo buscar cerveja. O poodle é só disfarce.
Outro dia ela passou e Helio falou de brincadeira:
- Vai na farmácia dona Fulana?
E a vizinha sem pestanejar:
- Vou, meu filho. Estou indo buscar o remedinho do almoço, senão a gente não aguenta.

24 de março de 2012

Desembestando

Meu neto às voltas com uma bola oval, coitadinho. Ele chuta para um lado e ela vai para outro. Todo mundo acha graça e fala mal da bola. Até que alguém lembra:
- Ela custou um real e vocês querem que seja redonda?

Mais de vinte dias sem postar e agora desembestei. 

Não é só ouvir

É por em prática:




Então desencana
Não generaliza
Isso não vale a pena
Não vai deixar isso te abalar
Desencana
Não generaliza
Isso não vale a pena
Não vai deixar isso te abalar
Deixa pra lá, esquece e abstrai
Releva e põe uma pedra em cima disso aí e vai
Deixa pra lá, esquece e abstrai
Releva e põe uma pedra em cima disso aí e vai
(Abstrai, Autoramas. Cd: Música crocante)

Sábado

Chico César cantando Beradêro: Os sem amor, os sem teto, os sem paixão, sem alqueire. No peito dos sem peito uma seta. A cigana analfabeta lendo a mão de Paulo Freire.

(A professora que ensinava os conceitos de Paulo Freire era a mesma que obrigava os alunos a usarem crachá pendurado no pescoço. Quem esquecia de tirá-lo depois da aula era vaiado por outros estudantes na cantina).

O cheiro ruim que fica na xícara quando o café acaba.

Pelo fim das bizarrices no Facebook. Não preciso de fotos de bebês mortos no lixo e animais escalpelados para saber que o ser humano é uma droga.

Encontrei um amigo ontem na rua. Ele tentou fazer graça: Está perdida? Quase respondo a verdade: Desde que nasci.

(Evitando escrever porque ando triste há séculos. Porém os dias ainda são os mesmos de antes. Nada mudou).

1 de março de 2012

Poema

quero te dar um presente, meu amigo
aquele velho livro ou disco
porque aqui tudo é velho
até mesmo o que acaba de sair do forno
já sai condenado. Vou ler um dos meus poemas
preferidos
para você achar que a vida tem jeito
e só os poetas sofrem
como Maiakovski
ou Bukowski que queria derreter a morte
com versos
como se derrete manteiga
e ele nem tinha ilusões, veja só
sinto pena.
De mim e de você que nada somos
e desafiamos a morte no supermercado.
Quero te dar um presente, meu amigo.
Talvez uma quantia em dinheiro
que te sustente na velhice se você chegar lá
envergado desse jeito
inútil desse jeito
da mesma forma que eu
que já vivi noventa em quarenta anos
(e foram só meses)
e nem tenho nada para te oferecer
pois tudo é gasto.Vamos ouvir música
comer bobagens
atravessar a rua sob o sol de meio dia
porque é isso que nos resta. Meus filhos vivem
a vida deles. Me beijam. Eu digo: podem ir,
mas é mentira.
Sou infantil, egoísta e confusa e quero te dar um presente, meu amigo
para que me odeie profundamente
e diga:
não sei o que fazer com isso. E assim seremos iguais mais iguais que os outros.
Numa irmandade que não nos salva
nem preserva
não é bondosa
nem misericordiosa
nem má. Não existe por códigos especiais e secretos
nem nos torna especiais ou melhores
ou piores
ou diferentes.
Não nos subtrai, nem acrescenta. Nem nos pede retorno.
Toma é tua essa pedra.
Meu amigo, um presente de coração.

(Anne Cerqueira, fevereiro de 2012)