19 de maio de 2015



Nem sempre há algo para ser dito
meu Deus
entre um gole e outro de café
e a louça para lavar.
O dia atropela tudo
e o rio visto pela janela flui
indiferente a mim e a você
e ao fato de ser rio
Então é isso. Os penduricalhos
de vidro
trincam sob o vento
enquanto a vida
sopra lá fora.
Não há mesmo muito a ser dito,
meu Deus.
Desconfio.
Anne Cerqueira.
2015

6 de maio de 2015

Ninguém me parece triste
com suas roupas de aço
seus relógios de ouro
marcando as mesmas horas

Ninguém parece reparar
fora de suas janelas
a paisagem ou além dela
seus relógios de ouro
suas roupas de aço

Penso, talvez não reste mesmo
muito além disso
as casas sobre as rochas
os vultos nas montanhas

o homem que grita
sem ser visto

e nós pisando as pedras
desse rio caudaloso.

Ninguém me parece triste
dessa tristeza que dá nó por dentro
com suas carapuças de couro
suas roupas de aço

Protegidos contra os ventos
e todo tipo de intempérie
os mais rudes sentimentos
ou os mais belos.


Anne Cerqueira