23 de abril de 2016

Quase uma prece

Obrigada meu Deus pelo dia de hoje
não de ontem, nem de amanhã, 
mas de hoje que me levanto
e ando pela casa, molho as plantas, 
brinco com o cachorro
e acho que está tudo bem
porque está como sempre.
E tem o sol e tem a chuva, o dia,
a noite, os livros, as certezas sempre
piores do que não te-las.
E a janela de onde vejo os vizinhos
e suas vidas diáfanas e seus amigos
que existem para não deixá-los morrer
sozinhos.
E o jardim e a poesia e meu próximo
que se encharca de vinho e uísque
e dá risada como se tivesse descoberto a
pólvora ou a roda. Sua grande subversão.
A corrente de ouro

A cegueira diária
e tudo mais que nos engana.
Obrigada meu Deus, pois ando pela casa,
molho as plantas e leio um livro.
Subversão é estar vivo.


Anne Cerqueira
Abril 2016

16 de abril de 2016

Na vitrola a música interminável
(Faz tanto tempo de tanta coisa,
meu Deus)
e nós quietos, mudos, magros
sem saber dançar
Anne Cerqueira.
2016

4 de abril de 2016

O homem grita sem ser visto
além das pedras do cemitério antigo.
As montanhas, os vales
o grito que ecoa
sem lugar de partida.
Talvez peça ajuda
para atravessar o rio,
talvez apenas queira um pequeno
assombro...
o sopro dos dias
visco.
Mas quem de fato sabe 
o que quer
o que precisa
o homem que grita
sem ser visto?!

Anne Cerqueira
Abril 2016