14 de dezembro de 2013

Lazy

Nível de preguiça no momento. Esperando que o mundo evolua tanto que chegue o dia em que a gente apague a luz e programe a televisão para desligar com a força do pensamento.


12 de dezembro de 2013

Vidro

anda por ai
esse coração que nada sabe

se parte mil vezes
ante o aço das paredes

nada sabe
esse coração
sob o aço das paredes

solto por ai
em invólucros de vidro
tão atônitos
quanto


(Anne Cerqueira, dezembro 2013)

28 de novembro de 2013

Parabéns para você

Antigamente era uma beleza fazer aniversário de criança. Diferente de hoje  que os pais contratam o serviço, chegam e saem junto com os convidados. 
Se duvidar, os preparativos começavam antes mesmo da criança nascer, fazendo estoque de leite condensado.
Quinze dias antes da festa tinha que juntar a família para adiantar os salgados. Na véspera, vinha todo aquele processo bacana de enrolar os docinhos e biscoitinhos-que-não-acabavam mais.
- Este negócio se reproduz com o ar? - reclamava a prima.
Tudo era praticamente feito em casa. Na minha infância, a moda era confeitar moldes de madeira, cheios de detalhes, e depois colocá-los sobre o bolo. Aleluia quando os enfeites de isopor se popularizaram.
Pois bem, era tanta coisa para fazer que ninguém ligava para o aniversariante, coitadinho, que acabava super stressado na festa.
Uma vez passei meses juntando cascas de ovos para transformar em palhacinhos e dar de lembrança do aniversário de Lu, minha filha mais velha.
Um cuidado extremo para pintar o rosto, colar o cabelo de lá e a gola de papel.
A maioria ficou em casa mesmo. No lixo, depois da festa. A criançada recebia a lembrança, se empolgava e esmagava o palhaço.
Mas era uma época boa para as papelarias.
A gente nunca viu tanto papel junto. 
Coitada da floresta Amazônica.
Recordo uma festa que fomos quando os meninos eram pequenos. A mesa estava coloridíssima, linda e super inflamável.
Não deu outra. As faíscas da vela se espalharam e tudo virou cinza em cinco minutos. Incluindo a toalha da Moranguinho.
Só sobraram os convidados - que saíram correndo em algazarra. E os salgados que a dona da casa tinha escondido para "quem chegasse depois".

23 de novembro de 2013

Duas asas

A prima casou com um comerciante abastado e levava uma vida confortável. Embora me parecesse simpática, falavam que gostava de se sentir superior aos outros. Para mim, que era criança, nada daquilo fazia sentido. Só me fascinava o fato da casa dela ser a única da família que tinha xícaras com duas asas.


17 de novembro de 2013

Identidade

Coisa que mais me acontece quando atendo o telefone no trabalho.

- Alô, falo com quem?
- Com Anne.
- Oi Tuane....

Onde foi que eu errei?

A gente trata os filhos com todo amor. Cuida da educação, da saúde. Fica atento se estão usando roupa de frio, se alimentando direito.
Com quem andam. Que horas vão voltar.
Sofre quando vão morar longe, mais ainda quando passam  meia hora sem dar notícias.
Esses clichês todos que envolvem o assunto.
Então, um belo dia, numa viagem da família, alguém lembra de ligar o som do carro. Você pede:
- Coloca a Jesuton. Aquela versão que ela fez da música do Elliott Smith.
E é bem neste momento que vem o golpe. O ser humano que você criou com-todo-amor-do-mundo, grita lá do banco traseiro quase em pânico:
- Não, pelo amor de Deus. Música boa não!


31 de outubro de 2013

LA LLUVIA

Comprei um guarda-chuva que é um toldo. Então não uso porque o transtorno também é imenso. Sombrinha não dá, perco todas. Megalomaníaca e avoada. Não há salvação para mim. 


Já fiz isso várias vezes. Melhor pagar mico do que estragar a chapinha. O problema é ficar só de repente.

29 de outubro de 2013

Um pequeno conto sobre gente

Antonio passou por uma uma infância muito pobre e sofrida. Hoje a vida é bem confortável, mas sonha recorrentemente sendo perseguido por ladrões. 
Josefa comprou o vestido lindo que vinha desejando há um certo tempo. Anda meio deprimida com receio de engordar antes de aparecer uma ocasião para usá-lo.
Sérgio conseguiu fazer a tão sonhada viagem para o exterior. Mas sem saber lidar com o desconhecido quase não curtiu.
Lívia estudou horrores para ser aprovada em um concurso público disputadíssimo. Entrou em pânico com medo de perder no psicoteste.
Bia ganhou um livro bacanérrimo sobre decoração de interiores. Devolveu. Não podia ter nada daquilo mesmo.

28 de outubro de 2013

Repertório

Nunca mais fui ao cinema.
Para que sair de casa se tem a internet e posso escolher o filme que quiser em vez de ficar limitada ao que está em cartaz?
Meu marido ouve rádio online.
Não tenho paciência.
Vou no youtube, escolho o que quero e não dou chance ao aleatório. No dia de menor inspiração passo direto para os favoritos e está tudo lá.
Esta é uma das vantagens da internet. Personalizar suas escolhas para evitar perder tempo com algo que você pode considerar chato. (Tirando as publicações bizarras do Facebook, porque ai não tem jeito).
O problema de tudo ter tanto a sua cara é que também se perde o fator uau. Igual a quando outra pessoa escolhe um filme, você não tem a menor expectativa sobre ele e acaba saindo do cinema maravilhada. Com um repertório maior.
Acho que é isso. Conviver é uma maçada das grandes. Porém quanto mais você se fecha em seu mundinho, menor vai ficando seu repertório.
O medo é de estar lendo os mesmos poetas do tempo de universidade. E só. E ouvindo apenas os mesmos cantores de sempre. E curtindo as mesmas páginas todos os dias. Quando o mundo é tão vasto.
No tempo em que os blogs bombavam era comum ter o fator uau. No Facebook ele é menor porque você também ESCOLHE as páginas de segue. Quase um jogo de espelhos. Parece que o universo é mais condensado ou eu não sei usar a ferramenta.
Tá, você escolhe o blog que lê, mas a pessoa tem mais liberdade para se expressar que em outras mídias.
E não há nada errado nisso tudo que citei.
É só uma questão de repertório. E de quando ele fica repetitivo. E o lance de ninguém ser uma ilha.

13 de outubro de 2013

Domingo

Você junta um monte de tralha dos armários para jogar fora. Coisa que está ali há décadas e nunca serviu para nada.  Mas bate aquela dúvida no meio do caminho: E se eu me desfizer disso tudo e precisar depois? Espera. Vou encontrar um jeito de reciclar. (Só que não).
Ai guarda tudo de novo.
E assim segue a humanidade: vivendo de esperança e apego.

6 de outubro de 2013

Não gosto dele mesmo sem conhecê-lo

Não gosto dele mesmo sem conhecê-lo. O ser humano é assim: preconceituoso e julga os outros.
Mas outro dia o ouvi dizer para a irmã que mulher tem que ser submissa ao homem SIM. E gritou até que ela se calasse.
Também o ouvi chamar a esposa de louca.
Ela tem uma deficiência grave e disse que é assim que todos pensam, só por causa do problema. " Os outros podem até ser ignorantes a este respeito, mas você não".
E ele repetiu:
- Você é louca.
Bem, o ser humano é mesmo preconceituoso. Então me reservo o direito de atravessar a rua para não dar nem bom dia.
Nem olhar na cara.
Não gosto dele, não o conheço e nem quero.

5 de outubro de 2013

Admirável mundo moderno

Primeiro veio a máquina de fazer pão para simplificar tudo. Lembrei de minha mãe que passava horas e horas na cozinha em busca de uma massa perfeita que nem sempre dava certo.
A máquina é uma beleza.
Não está sujeita aos caprichos do clima. Pode chover. Pode nevar. Pode estar abafado. Pode cair canivete.
Não precisa deixar a tigela do fermento coberta por não sei quanto tempo. O aparelho faz o trabalho dele e pronto. Lixe as unhas. Leia um livro.
O pão só fica ruim se VOCÊ errar a quantidade dos ingredientes.
Máquina é máquina.
Ou se faltar energia elétrica, como no dia do apagão aqui no Nordeste.
Ai veio o aparelho para fazer cupcakes. Sete de cada vez. Em poucos minutos você faz três fornadas. São pequeninhos e deliciosos.
Podem ser de chocolate, baunilha, cenoura.
Já vem a receita e o cliente decide.
O bolo só sai ruim se VOCÊ errar a quantidade de ingredientes.
Ou se - assim como eu - sofrer de impaciência crônica e não conseguir esperar oito minutos antes de abrir a tampa.
Minha filha mais velha e prendada assumiu o negócio e agora temos bolinhos assadinhos no tempo certo.
Aleluia.
Outro dia estava lembrando de minha mãe fazendo suspiro. Era uma ciência. E por fim, eles só podiam ser assados em forno quase frio. Minha mãe colocava uma caixa de fósforo ou outro obstáculo do tipo para evitar que a porta fechasse durante o cozimento.
Ficavam perfeitos. Crocantes por fora. Macios por dentro. Mas parecia que se você respirasse um pouco mais, todo processo iria por água abaixo.
Só falta agora alguém dizer que também já inventaram máquina de fazer suspiro. E que a receita não leva açúcar, nem clara de ovo, nem delicadeza. Uma substância genérica talvez.

4 de outubro de 2013

Way too long. Hold on, hold on

Pelo menos uma vez por ano meu pai tirava os bancos da parte traseira da kombi e enchia o espaço com colchões para que os seis filhos  pudessem se espalhar. Então viajava com a gente e mamãe até Alagoas e Pernambuco onde grande parte da nossa família ainda mora.
O mundo era inocente demais naquela época, fico pensando.
Não sei quantas vezes meu pai parou no caminho para dar carona a estranhos. Mais de uma pessoa ao mesmo tempo.
E a gente não tinha medo. Nem eles da gente. Ninguém nunca teve tanto medo do semelhante quanto hoje.
RECORTE. Gosto muito da banda Cage the elephant. Mas esse vídeo ai embaixo me fala particularmente ao coração. Por causa da música e mais ainda pelas imagens em perspectiva. Tenho a mesma sensação de quando era menina e passeava pelas ruas de Recife, à noite, segurando a mão de minha mãe.
As luzes da cidade grande vistas bem de baixo para cima. O alumbramento que se perde com o tempo: entidade que faz tudo parecer comum.
Way too long.
Hold on
Hold on

3 de outubro de 2013

Artigo raro


Eu era muito pequena e estava de férias na casa de meus avós paternos em Pernambuco, quando uma de minhas primas mais velhas chegou com uma boneca exatamente igual a essa da foto. Ela ficou com pena de mim - única criança num lugar cheio de adolescentes e adultos - e voltou da rua com o presente.
A boneca era pavorosa e eu sabia.
- Gostou, Aninha?
- Hum, hum.
Coloquei um nome que não lembro, trouxe para a Bahia e brinquei com ela por muito tempo, junto com as bonecas-princesas que enchiam a prateleira do quarto. Incluindo Luciana, a que piscava para  mim quando não tinha ninguém por perto.
E Dorminhoca, que ceguei passando mãos e demãos de violeta genciana nos olhos de vidro.
- Você vai ser o que quando crescer?
- Bailarina. Dentista . Médica.
Não lembro o nome da prima também. Minha mãe era boa nesses assuntos e, quando se foi,  levou os detalhes todos que ajudavam a complementar a memória.
Mas me lembro de como a boneca era engraçadamente feia. E do quanto foi bom aquele momento, lá em Garanhuns, há quase quatro décadas. E do quanto gentileza parece um artigo raro nesses atuais tempos estranhos. E do quanto tenho achado complicadíssima essa vida, quanto mais eu vivo.

23 de setembro de 2013

Notas de solidão


Notas de solidão

Do alto do edifício
penso
ainda
que é preciso salvar o mundo.

Com minhas sandálias rotas,
minhas roupas velhas,
minhas notas de solidão....

É preciso salvar o mundo.
Não da moça e suas falhas
Da criança que sonhava
em um dia andar na lua.

Talvez de mim
madura
ausente
muda

Incapaz de ser diversa, Adélia
tropeço no vento.
Olho pedra mil vezes
e vejo pedra mesmo.
 
Anne Cerqueira
set. 2013

7 de setembro de 2013

Pensamento do dia

Conheço pessoas que não erram. Nem poderiam. Errar é humano.

26 de agosto de 2013

Mais do mesmo

(Ai Facebook, nunca vi se usar tanto o nome de Deus em vão)

25 de agosto de 2013

Mico

Estou no quarto quando escuto o telefone tocar. Atravesso a sala reclamando do "povo dessa casa que não tem coragem de atender o telefone. Onde-já-se-viu-uma-coisa-dessas?". Pego o aparelho, digo alô e ouço  minha filha, lá do sofá,  tentando disfarçar o riso:
- Foi na novela, mãe.

23 de agosto de 2013

Deus me livre da maldade disfarçada de bem querer.
O Facebook é o novo parachoque de caminhão.

21 de agosto de 2013

A eloquência do silêncio

Conheço gente que fala tanto, mas tanto, que acaba fazendo o trabalho sozinha.
Conta a história.
Explica.
Argumenta.
Pergunta e ela mesmo responde.
Só resta ao ouvinte repetir uma palavra ou outra e balançar a cabeça de vez em quando.
Um paraíso para os tímidos como eu. Pessoas com terror de entabular conversa.
Já achei bacana por causa do pouco esforço de minha parte. Mas isso foi antes. Quando eu era linda e jovem. Ou só jovem e paciente, sei lá.
Agora, diante de criaturas prolixas, só penso: edita, editaaaaaaaaaaa.
Acho que o mundo andaria bastante se as pessoas descobrissem que podem contar boa parte das historias em um minuto. Ou nem. E que muitos detalhes são absolutamente desnecessários.

(Regra que me livraria de saber da hérnia da vizinha, toda vez que digo olá, por exemplo).

8 de julho de 2013

Mais uma corujice

Estava ensinando para meu neto de dois anos o nome dos sobrinhos do Pato Donald.
- Huguinho, Zezinho e Luizinho.
Repeti e fui checar.
- Entendeu? Huguinho...
E ele no mesmo tom:
- Seu vizinho e fura bolo.
Me digam: tem como não amar????

16 de junho de 2013

Aleatório

Gente que fala: "na minha época".

Hoje no Facebook li duas coisas que são tão a minha cara.

" De perto eu sou até um doce, mas tenho tanta preguiça que pareço azedo".

E "não dá para viver de fotos amareladas". Tenho feito isso literalmente. Vamos arejar, vamos arejar, meu povo.

Também no Facebook, uma culinarista famosa ensina a diferença entre ovo frito e ovo estrelado.

Penso:
- Vivi quarenta e tantos anos para descobrir isso? E ainda não entender claramente a diferença entre um processo e outro, só para piorar?!

Enfim moro no país dos descontentes. Já não era sem tempo. Será que agora vai, Brasil, zil, zil?

15 de junho de 2013

Randômico

Tento escrever uma carta do próprio punho. Hábito tão fora de moda quanto a expressão, mas ainda super charmoso. Sem computador não dá, então desisto e mando e-mail mesmo. Na minha época a moda era ter mil blocos de papel decorado, cada um mais lindo que o outro.
Tudo bem, vamos salvar as árvores.
Mas folheio revistas. Será que só eu sinto incômodo com crianças vestidas como adultos e animais vestidos como gente?
Cada qual no seu cada qual.
James Franco diz que não gosta de dormir, sente como se tivesse muito a fazer. Eu gosto, mas com o tempo nem isso a gente faz direito. Aproveita, James.

Angus Stone

Meu novo amor. É impossível ignorar alguém que cante desse jeito.

Julia

E a irmã dele - que canta tão lindo quanto.

13 de junho de 2013

A letra

Ligo para o consultório médico e explico que preciso marcar uma consulta para meu filho.
A atendente:
- Qual a idade da criança?
Eu:
- Vinte e oito.
E emendo sem graça:
- Sabe como é, né? Filho pra gente não cresce nunca.
Em casa, na hora do almoço, falo pra ele que está tudo certo. Tudo marcado. O problema é que não consigo lembrar de jeito nenhum o nome do tal médico.
Eu:
- Começa com a letra D, disso eu tenho certeza.
Ai vem um lampejo:
- Ah, já sei. Nonato.

11 de junho de 2013

Aquele momento estranho

Quando você quer tanto (mas tanto) alguma coisa e depois descobre que não tem a menor importância.
Ou quando você se decepciona com alguém e começa a duvidar da sua capacidade de avaliar os outros.

10 de junho de 2013

Nem a pau


Sempre tive um certo desconforto com entrevistas de comediantes. Não gosto de assistir porque eles não saem nunca da personagem. Estão lá, em qualquer horário, fazendo gracinhas e mostrando o quanto são insuportavelmente engraçados. Compreendo que este é o papel deles. Ninguém vai querer entrevistar um humorista que faça uma profunda avaliação política do país ou que analise os índices de violência. A não ser em tom jocoso.
Tudo bem. O problema é meu. Mas imagino também que exista aquele momento em que a criatura bata o cartão de ponto e se transforme em um cidadão como outro qualquer que precisa ir ao supermercado, levar o filho ao médico, esteja com dor de barriga ou apenas querendo curtir uma festa ou um evento cultural. O certo é que sempre vai aparecer um engraçadinho que o reconheça.
- Você é o cara da tv? Ah, conta uma piada vai.
O ser humano é assim, costuma confundir as coisas e ainda acha que está cheio de razão.
Uma vez fui finalista de um concurso nacional de poesia cuja premiação aconteceu em Salvador. Fiquei na mesma mesa que um cantor baiano muito famoso e ele passou a noite sendo pentelhado por uma criatura que surgiu não sei de onde e queria que o artista cantasse ali, naquele contexto, as músicas mais populares da carreira. Uma saia justa. Embora o cantor tenha se mostrado extremamente paciente e amável, acabou saindo do evento mais cedo que o previsto.
Guardadas as devidas proporções, quando fui repórter de um jornal impresso aqui na minha cidade, passei por coisas muito parecidas. Chegava como eu mesma em uma festa, um show ou coisa que o valha e tinha sempre um conhecido pra dizer:
- Veio fazer reportagem?
- Cadê o repórter fotográfico? 
- O resto da equipe vai chegar, não vai?
Ou para reclamar de alguma reportagem cuja condução não tinha agradado. Ou da linha editorial do jornal.
Não adiantava dizer que eu não estava mais no horário de trabalho e que antes do diploma vinha uma pessoa que estava ali para se divertir e relaxar. Ou que não me cabia falar em nome de qualquer empresa.
Nesses onze anos de blog sempre tentei deixar claro que esta é mesmo uma página pessoal. Assim como o twitter e o Facebook.
Passei por alguns empregos, exerci funções diferentes, mas aposto que quem está comigo desde o início mal sabe qual a atividade que desempenho.
Sempre foi uma questão de escolha. E isso me cabe.
Bato o cartão de ponto e vou ser eu mesma, aquela que posta vídeo de música, fotos de coisas coloridas e fala do neto.
Não abro mão desse direito nem a pau.


9 de junho de 2013

Na cozinha

Estou adiantando o almoço de amanhã. Abro o armário e vejo que não tem arroz. 21:34.  
Ligo para marido que está trabalhando. Então ele me lembra do arroz integral. 
- Pega na prateleira. 
Ligo para minha filha mais velha e  pergunto como faz.
- Do mesmo jeito que o outro. Só demora mais para cozinhar.
Ela mora em outra cidade e é quem me treina nesses assuntos.
Se digo que não sei ser dona de casa, muita gente pensa que fui dondoca a vida inteira. Quando é exatamente o contrário. Sempre trabalhei muito para me manter. Já tive dois, três empregos ao mesmo tempo. Hoje não quero mais correria, não fiquei rica mesmo e ainda paguei tarifa para o tempo.
Passo pano na casa, as costas doem.
Quando vejo meus colegas em início de carreira e no mesmo pique que já tive um dia, desejo de coração que mantenham o vigor. (Embora goste de minha vida exatamente do jeito que ela está. Mas os outros tem ambições que não tenho). E que preservem a coluna.

31 de maio de 2013

Envelhecer

O tempo dizendo que agora é pra valer. (Roubado de Arnaldo Antunes, com pesar)

26 de maio de 2013

(Incrível como você consegue sobreviver aos fatos que mais teme. Nove anos sem minha mãe, ontem.)

12 de maio de 2013

Nigella Lawson veio ao Brasil e não aprovou a farofa. Apesar disso, eu continuo gostando da Nigella Lawson. Mas ai dela se falar mal de maniçoba.

25 de abril de 2013

Quando as palavras quedam inúteis

Marido passa uns vinte minutos tentando me convencer a escolher o restaurante na hora do almoço. (Tanto faz, escolhe você./ Não, escolhe você). Então resolvo acabar com o lenga lenga.
- Tá bom, vamos para o shopping.
Ele:
- O shopping, uma hora dessas? Cheio daquele jeito?!
Eu:
- O chinês.
Ele:
- De novo?
Eu:
-Tá, então vamos naquele que só serve bacalhau.
Ele:
- Aquele caro? Ganhou na loto?!

Ou seja.

14 de abril de 2013

Disfarça e sai de mansinho

Aqueles dias em que você não está a fim de ser simpático com ninguém e encontra meio mundo de gente. Inclusive a criatura super amável que faz a maior festa, conversa um tempão e você não consegue lembrar de jeito nenhum de onde conhece.  Ô vergonha!

13 de abril de 2013

Todas as coisas idiotas que você promete a si mesmo que não vai fazer mais. E acaba fazendo.

9 de abril de 2013

Isso!

A internet hoje não está ajudando nada. Já me irritei tanto entre uma queda e outra que fico me questionando por que não desligo toda a parafernália e vou ver um filme na tv. É mais ou menos quando estou jogando online e tudo trava. Tudo trava e tudo trava. Marido entra na sala geralmente no momento de maior indignação e pergunta:
- Você joga para que?
E eu quase aos gritos:
- Para relaxar, não está vendo?!!!!
Isso. A vida é ridícula mesmo.

7 de abril de 2013

Samba na tv (que título duvidoso)

Alcione e Bete Carvalho com cabeleiras vastas e bem vermelhas em um programa do canal GNT. Chamou a atenção. João Nogueira ainda estava vivo, então foi gravado antes de dois mil. Ele tinha uma voz linda, linda, mas eu não percebia na época. Alguns sabores são para paladares maduros, creio.
Especial bacana, mas com um delay terrível. Os cantores batiam a boca e o som só saia muito tempo depois. Seria engraçado se não desse aflição.

6 de abril de 2013

Aquela felicidade sobre nadas

Gente que se apega a tudo. Parte dois. Finalmente consegui assistir o último episódio de Brothers and Sisters, depois de protelar e protelar e protelar. Sempre o medo de perder pequenos prazeres. Então senti tanta falta que comecei a ver a série toda de novo. Essa sou eu. Às vezes penso: o que seria de mim se não fosse esse blog? Onde mais escrever coisas desse tipo querido e silencioso diário?

Com um poema da Adélia Prado recorrente hoje. Enquanto faço uma coisa e outra.

"Está meio chuvoso e é domingo,
feito um domingo antigo,
quando Ormírio chegou com Antônia,
sua filha de criação,
e me deu um cacho de uvas.
...
Como Antônia era tola eu era feliz,
o eixo da terra girava devagar,
eu cantava
a propósito de tudo,
a música de que mais gostava.
...
Vê, são passadas décadas
e é a mesma em mim
a prontidão para a chuva,
as goiabas verdes.
...
aquela felicidade sobre nadas".

(Mais eu do que qualquer outra coisa. Só que sem a prontidão. Se entendeu, curte)

4 de abril de 2013

Esse povo que sabe o que quer

Cozinho banana da terra para o jantar de meu neto de um ano e onze meses. Ele olha o prato e pede:
- Cuscuz.
Alguns dias depois, bebê volta a passar a tarde comigo. Me antecipo e faço um cuscuz daqueles que só avó sabe fazer. Caprichado. Sirvo o prato, coloco na frente dele e ouço:
- Macarrão. Luca quer macarrão.
Aprendi. Agora vou ter que perguntar antes.

24 de março de 2013

Zé Dedé

Sonho com meu avô em sua lida de carpinteiro. A oficina no quintal escondida atrás dos pés de figo. Pode entrar.  Pode entrar. E puxa cabelo, belisca rosto, torce dedos, até que ninguém suporte e fuja com os outros. Todos os outros em debandada. Desavisados demais para entender que afeto nem sempre é brando.

18 de março de 2013

Gente que se apega a tudo

Eu. Protelando para assistir o episódio final de Brothers and sisters.
Mais ou menos nesse clima:


Com o agravante de não cantar como o Luke Macfarlane.

Pra rir e pra pensar

Bronzeado de inverno.
Eu com um tamanco dourado daqueles que podem cegar alguém se o sol bater:
- Amor, troco de sapato?
E ele:
- Não. Está combinando com suas pernas.
No restaurante quase vazio pelo adiantado da hora, o garçom simpático se empolga e serve a mesa cantando o hino nacional:
- Dos filhos dessólios, és mãe gentil...
A graça acaba ai.
 Agora ouvindo, sem querer, a briga na casa ao lado:
O adolescente:
- Mãe,  a senhora erra. Até minha vó erra. Todo mundo...
Ela interrompendo aos gritos:
- Mas você não tem esse direito.
E ele:
- Mãe, quando converso com a senhora perco a vontade de viver.


Um dia cheio hoje.

17 de março de 2013

Algo que não postaria no Facebook

Depois de tantos planos em vão de viajar para Garanhuns, eis que encontro a rua da minha avó paterna no Google maps. Uma emoção consoladora e estranha.
Meus avós morreram há algum tempo, mas eu precisava mesmo rever a casa.
De todas as coisas que passaram a me incomodar depois que envelheci, o pouco contato com o pessoal do lado paterno é uma das que mais pesam. 
Outro dia, um primo postou uma foto lá dos anos oitenta, creio eu. Umas seis pessoas naquela pose clássica de familia. Só reconheci vovô, vovó e a sensação imensa de ter perdido o bonde.

8 de março de 2013

4 de fevereiro de 2013

Seja breve

Pareço legal, mas não tenho paciência com gente que conta filme nos mínimos detalhes.

2 de fevereiro de 2013

Todas as coisas que você diz que vai fazer um dia, mas sabe que não vai fazer nunca.

1 de fevereiro de 2013

Todo dia me lembro que sou forte.

Obrigada Brothers and sisters

30 de janeiro de 2013

A lua cheia disse ao vagalume:
- Criticar não é meu costume, mas sua luz é bem fraquinha.
O vagalume respondeu:
- Mas é minha.

Anônimo.

(Este blog é a prova inconteste que minha vida não dá Ibope.
Não dá Ibope, mas é minha)

29 de janeiro de 2013

The wonder years (quando sua vida vira uma série ou uma novela mexicana)

Lembro do casamento do meu irmão mais novo. 
Enquanto todo mundo cuidava de seus assuntos, ele tinha sido o companheiro inseparável dos últimos anos  de vida de mamãe e só se casou depois que ela partiu. A cerimônia aconteceu na igreja de são Francisco de Assis, santo de devoção de dona Marlene.
Meu olho marejou já com o convite.
O casamento foi lindo. A recepção uma beleza, mas vai que de repente comecei a me sentir como Kevin Arnold em Anos Incríveis. Quem não lembra? Quando cai a  ficha e você se convence que tudo mudou e não tem mais volta.
Todo mundo cresceu, foi embora. Os caminhos agora eram outros.
Há uma citação bacana na série, mais ou menos assim: memória é um jeito de você não se afastar das coisas que ama, do que você é, daquilo que não queria ter perdido.
Os convidados bebiam, comiam, dançavam e eu chorava. E foi tanto e tão incontrolável que a mãe da noiva   teve dúvidas. Ela atravessou o salão, chegou perto de mim com toda delicadeza e quis saber:
- Essas são lágrimas de felicidade, não são?

A cantada

O menino era inexperiente nos assuntos amorosos e confundia atração com truculência. Atirava bola de papel na garota, colocava o pé para ela tropeçar e cair,  riscava o caderno enfeitadinho dela, um horror. 
Uma dia se encontraram por acaso no clube da cidade. A menina tentou fugir assim que o viu, mas não teve tempo. Levou um esbarrão tão grande da criatura que acabou caindo na  piscina. Não sabia nadar, quase se afogou. Mas a situação chegou mesmo a um ponto extremo quando ele decidiu parar de agir e resolveu falar. Uma vez, antes da aula.
Ele:
- Você faz parte de uma roda de samba?
Ela:
- Oi???
Ele:
- Você faz parte de uma roda de samba? Não? Deveria. Com esse pandeirão...

Brothers and sisters

Saul para Justin:
- Lembre-se todo dia que você é forte porque não acaba nunca.

Triste quando você tira verdades de uma série de tv. Ainda mais reprise.

20 de janeiro de 2013

Ah, esses atos falhos

Marido:
- Vai almoçar agora?
Eu:
- Acho que não, estou sem fome.
Ele:
- Vai esfriar.
- Tem nada não. Depois esquento no microondas Facebook.

19 de janeiro de 2013

Minha amiga era dona de um barzinho especializado em frutos do mar. Ela mesma fazia a limpeza dos caranguejos raspando pata por pata com uma lâmina de barbear em vez de usar faca.
Juro que admiro esse tipo de rebuscamento.

18 de janeiro de 2013

Aguardo

O passado nos espera
onde tudo falha.
Com seu abraço morno
e dentes amenos.

Pai, mãe, avós e tios
sussurram pacientes:
eis o nosso legado,
minha filha.

Nessa sala imensa
com tantos vidros baços
a vida conjuga
os verbos em outro tempo

Chama para a ciranda
sua risada branda
seu vestido lento

Aguardo.


Anne Cerqueira
janeiro/2013

17 de janeiro de 2013

Gorda


Coloquei esse card aqui para não perder a piada. Mas na verdade o que eu queria escrever é o seguinte: Todo mundo parece acreditar que o grande sonho de um gordo é emagrecer. Tanto que para agradar alguém acima do peso, mesmo que obviamente não seja verdade, a turma costuma repetir um tal de:
- Reparei que está mais magro. Não está? Ah, está sim!!!!!
Como se fosse a coisa mais importante do mundo. E bastasse para lhe fazer feliz.
 Acho que deve ser muito frustrante notar que um gordinho tem outros desejos e prioridades. 
Viajar para Bangladesh, Pequim, sei lá.
Tocar a vida.
Lavar roupa.
Terminar o mestrado.
Ganhar na mega sena.
Ou que não se importem tanto com ele, por exemplo.

13 de janeiro de 2013

12 de janeiro de 2013

Ho ho ho???

Tem dois anos que não me estresso com o natal. Compro basicamente o presente do amigo secreto e do meu neto. Quase não vou na rua e assim não ouço aqueles jinglle bells todos. Nem mesmo tento fazer algum prato para a ceia. Mando assar na padaria a ave que vem na cesta da empresa e pronto. Estranhamente nestes dois anos a data  meio que passou voando, em branco, embora a familia tenha se reunido como sempre. 
O natal demorava mais antes quando armava a árvore em outubro, contrariando o calendário e a tradição, e levava um bom tempo pensando na festa e fazendo listas. Dei a árvore de presente durante a reforma do ano passado e ficou por isso.
Ótimo.
Mas é como se eu tivesse perdido alguma coisa. 
Ainda mais que passei o reveillon dormindo para trabalhar bem cedo no dia seguinte.
Será que sinto falta do stress???
Ai vem a citação sempre tão cara a esse blog. Do dermatologista que fui recentemente.
Eu disse:
- Para desestressar eu preciso ganhar na mega sena, doutor.
E ele:
- Que nada. Viveria com medo de sequestro. Para a senhora desestressar, dona Belas, só nascendo de novo.
Ai que horror, minha gente!!!

10 de janeiro de 2013

Dias melhores verão.
Ou inverno.

Meu e de mais ninguém - título aleatório

Acho que a lembrança mais antiga que tenho é de uma festa junina na escola. Eu era bem pequena mesmo. Mamãe caprichou no vestido caipira, cheio de laços e babados, mas na hora dei o maior escândalo porque não queria que lambuzassem meu rosto com batom ou fizessem aquelas pintinhas pretas, pavorosas, de lápis de olho para imitar sardas. Também empaquei e não fui dançar a quadrilha de jeito nenhum. Sempre tão social!
Fiquei a festa toda sentada, desta vez por vontade própria, de olho no bolo de laranja que mamãe tinha levado. E assim foi. Uma coisa é certa no entanto. Posso ter estragado a festa para mim várias e várias vezes. Mas sempre tentei não estragar a de ninguém.
Fato que me lembra algo que um amigo costumava repetir: quando você não assume determinado papel, com certeza alguém próximo vai assumir. 
E ba-bau.

6 de janeiro de 2013

Keep calm and...


 O que mesmo? Nem sei...

5 de janeiro de 2013

A mentira

Dona Lourdes era nossa vizinha de parede e fazia o caruru mais badalado do bairro lá no tempo da minha infância. Eu devia ter uns nove anos de idade e tinha passado os últimos doze meses esperando o grande momento.
O dia chegou com aquele cheiro maravilhoso de camarão, castanha e amendoim  tudo misturado com bastante tempero como deve ser. Acontece que na hora de me arrumar para a festa, resolvi  testar a maquiagem de mamãe. Blush, batom, tudo que estava ao alcance da minha sanha de menina querendo ser vaidosa. (Coisa que não emplacou). Então o pessoal começou a bater na porta do banheiro e não havia água que limpasse aquilo do meu rosto.
Sai tentando fazer cara de paisagem no tempo em que essa expressão nem existia ainda. Mas nada, nada nesse mundo escapava de dona Marlene.
- Por que seu rosto está vermelho assim?
- Não sei, mãe.
E ela:
- Nossa! É alergia! 
- Não é não....
- É sim. Não vai comer caruru hoje.
- Como é que é? (olho marejando)
- Quer se sentir mal? Não vai e pronto.
Foi assim que passei a noite inteira sentada na sala da casa de dona Lourdes vendo todo mundo se encher do caruru e do vatapá mais-gostosos-de-Feira-se-Santana sem provar nem um tiquinho.

Às vezes eu acho que devia ter nascido rebelde.