30 de abril de 2012

Vida moderna

Você programa a televisão para desligar em uma hora. A tv desliga, mas você não.

22 de abril de 2012

É preciso viver, você sabe

É preciso viver, você sabe
apesar do cansaço
essa lâmina.
A bagunça na casa
dança indecifrável.
Procuro a carta
documento de compra e venda
vestido do primeiro aniversário
retrato de mãe e pai
resquícios do que fui algum dia
sem pressa.
É preciso viver, você sabe.
Talvez quando tudo cesse.
Talvez quando tudo acabe.

Anne Cerqueira, abril 2012

15 de abril de 2012

8 de abril de 2012

7 de abril de 2012

Tratamento de choque

Nada de cachorro, gato, papagaio ou periquito. Eu queria um carneiro de estimação. Mãe dizia que não era o tipo de bicho para se criar em quintal, só em chácara ou fazenda, e não dava bola. Até que um dia, voltando da aula, vi um filhote muito fofo no jardim de outra casa. Tudo bem que era uma casa enorme, mas  me senti no direto de pressionar dona Marlene. Foram meses de encheção de saco. O problema é que minha mãe sempre foi boa de argumento e quando perdeu a paciência me chamou para conversar. 
- Aninha, sabe por que você não pode criar um carneiro? Porque quando ele crescer, seu pai vai colocá-lo direto na panela. 
Doloroso foi imaginar isso:
Se transformando em quase isso:

Nunca mais toquei no assunto.

6 de abril de 2012

Tomorrow, tomorrow

Lá se vai o tempo da loirice. Agora sou a mais nova ruiva on the block, que nem Annie, a orfã do musical do tomorrow. O sol vai sair amanhã. Então você tem que aguentar até amanhã.
Lembro de minha mãe cantando uma daquelas marchinhas antigas de carnaval que ela mudava e colocava o nome da gente: Diga quem quiser, Anne é boneca. Dos olhos cor de sonhos, vestido de ilusão.
A boa é que Rufus Wainwright está com música nova para minha graça e alegria nesses tempos tão magrinhos de tudo.
No mais, Páscoa sem chocolate, mas com muita moqueca de bacalhau. Antes se queria viver trinta anos a cem. Hoje todo mundo quer a eternidade em vida e o veneno está nos pratos.


Sim, até eu que sou boneca sei: muita lenga lenga nesse blog. Ass. Annie.

4 de abril de 2012

Feliz aniversário, Bob


Obrigada Luciana, por me lembrar.

(Também nessa data, mas em outra dimensão: Cazuza e Heath Ledger)

1 de abril de 2012

Sem muitas delongas


Praticamente tudo que aprendi criando três filhos não serve no tempo do meu neto. O que curava antes, hoje não faz efeito. Na época em que informação chega e muda a cada segundo você não pode dizer:
- Põe uma fitinha vermelha na testa dele para passar o soluço.
Sem parecer maluca.
Quando os meninos nasceram a experiência de minha mãe ainda contava. Tanto que ela era requisitada para cuidar de absolutamente todos os netos assim que saiam da maternidade. Era ela quem dizia:
- Lava o cabelo desse jeito para não cair água no ouvido.
Ou:
- Dá três gotas desse remédio que a cólica passa.
E passava.
Não havia colher que muda de cor para indicar se o alimento está muito quente. E coisas do gênero.
Na hora do banho era o cotovelo que media a temperatura da água.
Comida também não matava como mata hoje.
Ninguém suspeitava de uma laranja lima.
Minha mãe parou no segundo grau. E até 2004, o último ano conosco, nunca a vi em frente a um computador.
Aposto que nunca soube o que era um site de busca.
Ela se especializou em ser o que era. Sem muitas delongas.