29 de março de 2011

Apesar de ser a pessoa mais desatenta do mundo, o reconheci na hora. Até hoje a familia dele mora na mesma rua onde passei a  infância e a adolescência. Ele era um dos mais velhos da turma e se mudou para São Paulo depois da morte da mãe, há muito mais de vinte anos. O reencontro foi aqui em Feira de Santana, numa fila de supermercado. Sábado à tarde, maior correria e eu fazendo a tradicional cara de paisagem enquanto avaliava se deveria me aproximar ou não, porque essas situações podem ser super constrangedoras. Visualizem a cena hipotética. Eu perguntando:
- Lembra de mim?
E a criatura:
- Quem?
- Belas...
- Belas de onde?
Tuuurummm pishhh !
Bom, eu estava considerando essas bobagens todas quando o ouvi checando com o irmão:
- Aquela é a Belas?!  É, né?
Depois da afirmativa, ele veio, me abraçou na maior simpatia e disse, como é de praxe, que eu não tinha mudado nada.
(A boa educação manda falar isso, eu sei,  mas sempre acho essa frase tão estranha. Quase como ignorar a ordem natural das coisas. Ou vai ver que ouvi muito Belchior na vida. John, o tempo, esse-fela-da-mãe, andou mexendo com a gente sim. Oh, yes, oh yes. E não digo nem da aparência. Foi então que percebi o seguinte: às vezes você se distancia tanto do que já viveu que parece andar por ai usando memórias alheias).

28 de março de 2011

Rosa do deserto

Em uma casa sem crianças e sem bicho de estimação (a gata sumiu) o que resta? Cuidar de planta. Assim mesmo no singular. Mas não é uma planta qualquer, tem valor sentimental. Meu marido me deu de presente semana passada,  na volta de uma viagem. A rosa do deserto.


Como o nome indica, a espécie precisa de muito sol para florescer (ao contrário de mim, que me afino mesmo é com tempo nublado), mas no geral exige pouca atenção. Não é exatamente assim um ser vivo carente e vaidoso, entenderam?

27 de março de 2011

Louis Vuitton? Não, lunch box

Todo mundo pensa que bolsa de gordo é lancheira. A sala pode estar lotada, mas para quem perguntam primeiro?
- Tem um doce ai, Belas? Um chocolate? Um biscoitinho?
Tá, geralmente tem. Embora eu minta descaradamente e negue por puro desagravo. Um ato estético, como diria minha filha.


Louis Vuitton? Não, lunch box!!!

A vida, meus caros. A vida. 
Um-leão-por-dia.

24 de março de 2011

Meodeos do céu

Coisa mais tchuca do mundo.


Eu usaria. E vocês?


Não gosto de ouvir conselho nem quando peço. Mas esse até que faz sentido.

23 de março de 2011

Beauty


Quando cheguei no mundo ela já estava. E muito bem, por sinal. Então não digam que é bobagem ficar triste hoje.

O mundo é um lugar esquisito, disse o cineasta Karim Ainouz na televisão. "Quando a gente pensa que está tudo bem, acontece um terremoto". O mundo e suas catástrofes. Os homens e suas impossibilidades. Lavei prato feito uma louca ontem, só de desagravo a não sei o que. Raiva é a única coisa que me faz perder a fome.
- Por que não vai almoçar?
- Tenho medo de morrer envenenada. Pelo sentimento.

19 de março de 2011

Dia de São José. Ainda não caiu uma gotinha de chuva em Feira de Santana hoje, sinal que as próximas safras de milho e feijão estarão comprometidas, segundo a sabedoria popular. Em contrapartida, hoje vai ter a maior lua cheia das últimas décadas. A super lua. A cada vinte anos o satélite fica mais perto da terra e pode ser visto maior e mais brilhante.
E eu me lembro do livro de bruxarias da Maga Patalógica que tive quando criança. Para o dinheiro nunca faltar, você pega umas moedas, oferece à lua e recita:
" Deus te salve, lua cheia
Lua de São Vicente
Quando fores que vieres.
Trazei-me dessa semente"
Mas vou logo avisando,  essa simpatia não é lá de muita confiança não.

Drummond, açúcar e chocolate

Você vai na delicatessen e pede uma fatia caprichada de bolo de chocolate com recheio de leite condensado e nozes. A moça ainda coloca dois casadinhos que enfeitavam o prato. Quer calda de chocolate? Pergunta. E você tem a cara de pau de dizer que sim. Claro. Bastante.  Ainda  distorce os versos do Carlos Drummond de Andrade sem o menor peso na consciência: lutar com a balança é a luta mais vã. Sempre desisto mal rompe a manhã.
Sempre desisto. Mal rompe a manhã.
A terapeuta disse que uma boa combinação de florais de Bach iria conter essa obsessão por açúcar. Perdi a receita.
Na sala de espera de uma clínica, leio na revista que pesquisadores de uma universidade dos Estados Unidos chegaram à conclusão que algumas pessoas se viciam em comida, como outras em álcool. E que os prinicipais alimentos com este poder são...( não sei. Fui chamada bem nessa hora).
Luta mais vã.

18 de março de 2011

Hey, hey, hey. La, la, la...



Às vezes os anos oitenta me chamam de volta para ser a criatura que adorava este vídeo do Simple Minds,  entre milhares de outras coisas que nem lembro mais. E eu aceito o convite.

(Will you recognise me?
Call my name or walk on by
Rain keeps falling, rain keeps falling
Down, down, down, down)

13 de março de 2011

M-e-d-o-s

Conheço uma criatura que tem verdadeiro pavor de aranha. Quando ela era criança, não dormia sem que alguém olhasse embaixo da cama e garantisse que não havia nenhuma. Um amigo nosso tem medo de sapo, não consegue nem falar o nome. Eu travo quando tenho que pisar naquelas passarelas de vidro dos shoppings. Dizem as revistas que Daniel Radcliffe, o Harry Potter, tem medo de palhaços. Johnny Depp também. E de altura. Nicole Kidman tem pavor de borboletas. Matthew McConaughey não dirige em túneis. E Christina Ricci, a Wandinha da Família Adams, sofre de botanophobia, ou seja, medo de plantas.
Acho que os piores são mesmo de um tipo: os inexplicáveis.

10 de março de 2011

8 de março de 2011


(Sempre fui péssima com títulos, mas nesse caso até que combinou com o post. Uia. )

7 de março de 2011

Oito de março, dia da mulher. Não me mandem flores.

A empresa onde trabalho mudou o plano de saúde e a clínica que eu costumava frequentar foi  descredenciada. Voltei lá muito tempo depois, em outra troca de plano. A primeira coisa que a atendente fez foi atualizar minha ficha no computador.
- Casada, não é dona Belas?
- Não, divorciada...
- Ainda mora em tal lugar? (um bairro classe média-mais-ou-menos da cidade).
- Não, estou em outro endereço....( um bairro popular).
A criatura largou o teclado, olhou para mim e disse:
- Tá vendo quanta diferença faz um divórcio?!
E riu. Eu não.

6 de março de 2011

Nós e o carnaval


Minha filha mais nova: Mãe, como a senhora teve coragem de fazer isso comigo?
- Herança, minha filha. Herança.

5 de março de 2011

Woke up this morning
Singing an old, old Beatles song
We're not that strong, my lord
You know we ain't that strong
I hear my voice among others
In the break of day
Hey, brothers
Say, brothers
It's a long long long long way

(Caetano Veloso, It´s A long way. Transa, 1972)

4 de março de 2011

O teu amor é uma mentira que a minha vaidade quer. E o meu, poesia de cego.

Não gente. Não ganhei na loto e me mandei para Aruba. Não virei carnavalesca de uma hora para outra e fui curtir a festa pelo Brasil. Não surtei e virei hippie. Não fugi com o circo. Na-na-ni-na-não. Continuo com minha vidinha certinha e econômica de cartão de ponto bem aqui, right now. Sem ter  o que dizer, me calei esses dias. Vocês sabem, silêncio pode ser de uma eloquência tremenda. (Sem trema). Melhor do que um post assim, mulher desavisada!
Em tempo. A citação de Cazuza ai em cima não tem nada a ver com o texto, perceberam, né? Óbvio. Mas além de achar os versos dele super bonitinhos, enchi de tentar fazer sentido*.

* Onde vende?