Eu era muito pequena e estava de férias na casa de meus avós paternos em Pernambuco, quando uma de minhas primas mais velhas chegou com uma boneca exatamente igual a essa da foto. Ela ficou com pena de mim - única criança num lugar cheio de adolescentes e adultos - e voltou da rua com o presente.
A boneca era pavorosa e eu sabia.
- Gostou, Aninha?
- Hum, hum.
Coloquei um nome que não lembro, trouxe para a Bahia e brinquei com ela por muito tempo, junto com as bonecas-princesas que enchiam a prateleira do quarto. Incluindo Luciana, a que piscava para mim quando não tinha ninguém por perto.
E Dorminhoca, que ceguei passando mãos e demãos de violeta genciana nos olhos de vidro.
- Você vai ser o que quando crescer?
- Bailarina. Dentista . Médica.
Não lembro o nome da prima também. Minha mãe era boa nesses assuntos e, quando se foi, levou os detalhes todos que ajudavam a complementar a memória.
Mas me lembro de como a boneca era engraçadamente feia. E do quanto foi bom aquele momento, lá em Garanhuns, há quase quatro décadas. E do quanto gentileza parece um artigo raro nesses atuais tempos estranhos. E do quanto tenho achado complicadíssima essa vida, quanto mais eu vivo.
Um comentário:
A prima era Katia filha de Tio Sebastião. ambos morreram num acidente de carro;
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