Outro dia, andando pelo comércio, encontrei minha professora de matemática da quinta série. A reconheci na hora, então me aproximei e fiz aquela pergunta que tem tudo para dar em constrangimento, mas quando você vê, já foi:
- A senhora lembra de mim?
Ela parou, pensou e respondeu com outra pergunta:
- Você ainda escreve?
Tá, para vocês entenderem vou ter que contar a história do início.
Esta professora era uma das mais temidas da escola, durona, enérgica. Eu que era a conversadeira-mor da turma não dava um pio na aula dela, porque era nova, mas tinha juizo. Então não sei de quem foi a ideia de mostrar para a criatura um poema que eu tinha escrito. Mostrar logo prá ela? Por que não prá professora de português? Bem, o poema falava sobre um trem partindo, uma estação vazia, perdas e outras coisas do tipo que nem me lembro mais. Quando vi meu caderninho na mão da pró, fiquei tão envergonhada que nem consegui falar direito.
- Bonito seu poema...
- Hum hum...
- E tem outros, né?
- Hum hum!
- Acho muito bom que você goste de literatura e queira desenvolver esse dom...
- (sorriso amarelo esverdeado)
Então veio o desfecho:
- Mas acho também que você é muito jovem para escrever sobre estes temas. Não se deve pensar nisso na sua idade.
(Pois é, se tivesse uma bola de cristal podia ter dito a ela. Se preocupa não, pró. As coisas mudam. No futuro vou ter um blog sobre nada).