26 de julho de 2012

As fotografias apontam para mim

As fotografias apontam para mim
o silêncio do meu tio
aquele que morreu jovem
no caminho onde hoje tem uma cruz.
Mãe dizia:
- Seu avô mandou fazer
E eu entendia:
Para diminuir a dor
Para disfarçar a dor

Vó Maria, devota 
de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.
Não conheci.
- Era alta, mãe?
- Era pequena?
- Era suave ou severa?
- Tocava piano? Falava grave?

(Nossa Senhora do Pé de Socorro, dizia a menina
diante da imagem que restara
daquela vida tão breve)

Na casa de vó Zefinha, os bancos de madeira.
O quarto dos santos, a altivez maiúscula.  
As flores
que não esqueço
os pequenos degraus antes da soleira

Figos. Frio. Gravuras.

Eu mesma. Em antigos documentos

atestados de residência. 

As fotografias apontam para mim.
Sutis assinaturas.

(Anne Cerqueira, Feira de Santana, julho de 2012)

5 comentários:

maria de fatima disse...

Saudades de vó Zefinha, por baixo daquele ar severo ela nos amava.

denise disse...

Bonito demais...Melancólico.bjo Denise Bondan

Belos e Malvados disse...

Obrigada Denise, um beijo para você

maria de fatima disse...

Ninha tu lembras de Tio Mario? Acho que ele ja tinha morrido quando nasceste.

Belos e Malvados disse...

É dele mesmo que estou falando. Só vi em fotos. Toda vez que a gente ia para Caruaru, mamãe mostrava o local do acidente e a capelinha que vovô mandou fazer. Lembra?