28 de novembro de 2013

Parabéns para você

Antigamente era uma beleza fazer aniversário de criança. Diferente de hoje  que os pais contratam o serviço, chegam e saem junto com os convidados. 
Se duvidar, os preparativos começavam antes mesmo da criança nascer, fazendo estoque de leite condensado.
Quinze dias antes da festa tinha que juntar a família para adiantar os salgados. Na véspera, vinha todo aquele processo bacana de enrolar os docinhos e biscoitinhos-que-não-acabavam mais.
- Este negócio se reproduz com o ar? - reclamava a prima.
Tudo era praticamente feito em casa. Na minha infância, a moda era confeitar moldes de madeira, cheios de detalhes, e depois colocá-los sobre o bolo. Aleluia quando os enfeites de isopor se popularizaram.
Pois bem, era tanta coisa para fazer que ninguém ligava para o aniversariante, coitadinho, que acabava super stressado na festa.
Uma vez passei meses juntando cascas de ovos para transformar em palhacinhos e dar de lembrança do aniversário de Lu, minha filha mais velha.
Um cuidado extremo para pintar o rosto, colar o cabelo de lá e a gola de papel.
A maioria ficou em casa mesmo. No lixo, depois da festa. A criançada recebia a lembrança, se empolgava e esmagava o palhaço.
Mas era uma época boa para as papelarias.
A gente nunca viu tanto papel junto. 
Coitada da floresta Amazônica.
Recordo uma festa que fomos quando os meninos eram pequenos. A mesa estava coloridíssima, linda e super inflamável.
Não deu outra. As faíscas da vela se espalharam e tudo virou cinza em cinco minutos. Incluindo a toalha da Moranguinho.
Só sobraram os convidados - que saíram correndo em algazarra. E os salgados que a dona da casa tinha escondido para "quem chegasse depois".

23 de novembro de 2013

Duas asas

A prima casou com um comerciante abastado e levava uma vida confortável. Embora me parecesse simpática, falavam que gostava de se sentir superior aos outros. Para mim, que era criança, nada daquilo fazia sentido. Só me fascinava o fato da casa dela ser a única da família que tinha xícaras com duas asas.


17 de novembro de 2013

Identidade

Coisa que mais me acontece quando atendo o telefone no trabalho.

- Alô, falo com quem?
- Com Anne.
- Oi Tuane....

Onde foi que eu errei?

A gente trata os filhos com todo amor. Cuida da educação, da saúde. Fica atento se estão usando roupa de frio, se alimentando direito.
Com quem andam. Que horas vão voltar.
Sofre quando vão morar longe, mais ainda quando passam  meia hora sem dar notícias.
Esses clichês todos que envolvem o assunto.
Então, um belo dia, numa viagem da família, alguém lembra de ligar o som do carro. Você pede:
- Coloca a Jesuton. Aquela versão que ela fez da música do Elliott Smith.
E é bem neste momento que vem o golpe. O ser humano que você criou com-todo-amor-do-mundo, grita lá do banco traseiro quase em pânico:
- Não, pelo amor de Deus. Música boa não!