Meu ex-marido mandou para mim hoje vários arquivos de coisas que escrevi há trezentos anos e que ficaram no computador dele quando nos divorciamos. Na verdade, nem sabia que estavam com ele e não pensei muito nisso esse tempo todo (quase uma década), mas amei reencontrá-las, claro.
Para o gesto não passar em branco, decidi postar aqui um destes poemas - um dos meus preferidos. Está ai embaixo.
Não foi feito para o "ex", mas para uma pessoa muito importante na minha infãncia e adolescência e relata as impressões que tive quando nos reencontramos alguns anos depois... Apesar do tom meio acusador, caberia uma dedicatória assim: Para M. S. com o carinho e a saudade de sempre.
Poema dos Vestígios
Segues sem saber que teus pés estão molhados
com aquela água barrenta que não te deixa
e que não deixaste morta no rio que mataste.
Segues sem saber que ela te anuncia anterior ao crime,
ainda longe do trem no qual fizeste
a travessia para o mar.
O trem que agora te assombra
com a possibilidade de revelar segredos
de menino descalço e magro
de menino de olhos assustados
de menino banhado pelo rio
que cortava a cidade quase banida do mapa,
quase simples demais,
pequena demais para o que tu próprio pensas a teu respeito.
Mas o que és senão aquele menino que numa tarde qualquer
deixou tudo para trás e seguiu sem saber que tinha os pés marcados
pela água que não deixou morta no rio que matou.
pela água que não deixou morta no rio que matou.
O que és, senão o próprio rio limitado pelas margens, sem oprimir as margens,
apenas preferindo ignorá-las?
A sede do mar, esquecendo que o mar não se bebe...
(Anne Cerqueira)
Um comentário:
Oxe, copia e cola. Nem ligo ;-)
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