Ontem foi o aniversário de nascimento de Luiz Gonzaga, noventa e seis anos. Quando ele morreu há 19, chorei antecipadamente a perda do meu pai. Engraçado como um sempre me lembrava o outro. Os dois eram parecidos na maneira de andar e no jeitão nordestino, embora meu pai não tocasse sanfona, nem usasse chapéu de couro.
As músicas de Gonzagão costumavam embalar as festas da família. "...Eu lhe dei vinte mil réis, prá pagar três e trezentos. Você tem que me voltar, dezesseis e setecentos...É dezessete e setecentos...".
Mas uma delas era expressamente proibida sempre. Asa Branca. Minha mãe mudava o canal da televisão, do rádio, do que fosse e não deixava nem a gente cantarolar. Não adiantavam os recursos:
- É tão bonita, mãe...
- Mas dá azar.
Ela havia sofrido um acidente de carro quando era mais jovem e dizia que Asa Branca estava tocando no rádio bem na hora. Foi o bastante para que pretendesse banir essa música da nossa existência. De fato, só consegui ouví-la livremente já adulta. Morando em minha própria casa e dona dos meus próprios medos.
8 comentários:
Interessante, a gente acaba herdando mesmo os medos dos outros.
Asa Branca, nosso "hino", considerada proibida... coisas de contextos, nè?
Para Caminhante: Medo é uma coisa que contamina. E muitas vezes a gente nem percebe.
P/ Spinola: Pois é. Ela simplesmente não sabia lidar com o lance do acidente e o projetava na música. Queria ter compreendido isso naquele tempo, uma pena.
Ontem fez 03 anos que Júlia nasceu. Uma bela data.
Vida longa à memória do gonzagão e vida longa à pequena Julia.
Beijos para Júlia. Que ela cresça sem medos. Só com os necessários.
sobre os medos de Julia: e serão muitos!
sobre o defunto sacaneado: e ainda foi pouco!
Todo mundo tem que ter medos, não precisa ter medo de tudo, mas de alguma coisa.
De certo, minha vó também mudou com o passar do tempo.
Lucila
Postar um comentário