Ele apareceu na empresa onde trabalho querendo resolver um problema. Magro e sério, como sempre.
- Estudamos no mesmo colégio - puxei conversa.
- Foi? Na mesma sala?!
- Não. Você era umas duas séries adiantado... Seu pai tinha um armarinho no centro da cidade...
- Você lembra?
- Muito. Minha mãe ia lá direto e me levava. Não era bem uma loja moderna, né? Mas eu morria de inveja de você no meio daquilo tudo. Papel celofane prá todo lado, artigos prá festa feitos de madeira, tanta coisa colorida, tanta quinquilharia. Sempre achava que entrar ali era fazer parte de um universo paralelo... Igual a ler um livro e sair imaginando.
- (pausa) Eu detestava. Queria jogar bola. Ficar na rua com os amigos. Era garoto, você sabe...
-Eu sei, você não disfarçava muito – disse rindo. - Lembro dos balcões de madeira escura...Imbuia? Das imagens dos santos, as vitrines que pareciam oratórios... (pausa) Sua tia foi minha professora... tinha um problema de saúde...
- Morreu faz um bom tempo. Meu pai também. Mais ou menos quando a loja fechou. (pausa) Estou impressionado com sua memória...
-Eu também (pausa). Olha, vou procurar a papelada que você pediu... como é mesmo seu nome? Juro que sabia.
4 comentários:
pra vc ver que os universos paralelos são diferentes para quem está no centro...
O essencial você lembrou, ué.
O nome talvez não fizesse tanta diferença , pois afinal na sua memória ele estava lá ... como o garoto da loja de armarinhos , prá que saber mais né ???
bjo e bom final de semana
Ele devia ser chato qdo criança. E agora deve estar insuportavel.
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