Quando Rufus, nosso cachorro, morreu em fevereiro decretei que não criaríamos mais animal nenhum. Hoje temos um gato. Na verdade, ele veio não sei de onde e se apossou de tudo e de todos.
Acho gato um bicho estranho, alheio, não interage com ninguém a não ser por algum motivo. Geralmente fome ou sede. Às vezes fico pensando que gente como eu, que tem uma timidez quase patológica, também pode passar essa impressão de chatice, arrogância ou pouco caso. (Tá...ou abobalhamento total a depender do dia). De qualquer maneira acaba sendo fácil afastar os outros.
Um professor me disse há trezentos anos que timidez é excesso de vaidade. As pessoas têm tanto medo de mostrar que são imperfeitas que se retraem. Não sei. Hoje aceito o que sou sem sofrer muito, mas é claro que passo milhares de impressões que estão longe da minha realidade. Eu e o resto do universo. Porque é assim que as coisas são: cada um usa uma medida diferente prá pesar o mundo. Como recriamos textos inteiros com a nossa leitura, também recriamos os outros e às vezes há muito ruído nessa comunicação.
Whatever. Com timidez ou sem timidez acabamos sendo um bocado de coisas que nem somos. Isso só não vale para o gato que nos adotou. O bichano é terrível mesmo. Tão terrível que está quase me convencendo a sair de casa, ir até o supermercado buscar latinhas e latinhas de ração. E de uma marca boa. Só prá ver se ele para de torcer o focinho prá tudo.