Apesar de ser a pessoa mais desatenta do mundo, o reconheci na hora. Até hoje a familia dele mora na mesma rua onde passei a infância e a adolescência. Ele era um dos mais velhos da turma e se mudou para São Paulo depois da morte da mãe, há muito mais de vinte anos. O reencontro foi aqui em Feira de Santana, numa fila de supermercado. Sábado à tarde, maior correria e eu fazendo a tradicional cara de paisagem enquanto avaliava se deveria me aproximar ou não, porque essas situações podem ser super constrangedoras. Visualizem a cena hipotética. Eu perguntando:
- Lembra de mim?
E a criatura:
- Quem?
- Belas...
- Belas de onde?
Tuuurummm pishhh !
- Belas...
- Belas de onde?
Tuuurummm pishhh !
Bom, eu estava considerando essas bobagens todas quando o ouvi checando com o irmão:
- Aquela é a Belas?! É, né?
Depois da afirmativa, ele veio, me abraçou na maior simpatia e disse, como é de praxe, que eu não tinha mudado nada.
(A boa educação manda falar isso, eu sei, mas sempre acho essa frase tão estranha. Quase como ignorar a ordem natural das coisas. Ou vai ver que ouvi muito Belchior na vida. John, o tempo, esse-fela-da-mãe, andou mexendo com a gente sim. Oh, yes, oh yes. E não digo nem da aparência. Foi então que percebi o seguinte: às vezes você se distancia tanto do que já viveu que parece andar por ai usando memórias alheias).
(A boa educação manda falar isso, eu sei, mas sempre acho essa frase tão estranha. Quase como ignorar a ordem natural das coisas. Ou vai ver que ouvi muito Belchior na vida. John, o tempo, esse-fela-da-mãe, andou mexendo com a gente sim. Oh, yes, oh yes. E não digo nem da aparência. Foi então que percebi o seguinte: às vezes você se distancia tanto do que já viveu que parece andar por ai usando memórias alheias).