28 de setembro de 2020



Não há mais alegria na casa
nem cores nos livros que os mais velhos liam pra mim
naquela varanda imensa
da casa imensa
que não é mais essa.
Cheios de palavras antigas - cromo, botica, arminho -
e histórias de dar nó na alma.
A pequena órfã.
A menina dos fósforos: morta de solidão, fome e frio
na véspera de tantos e tantos natais.
Não havia alegria ali também
só a imaginação
ressuscitando a menina sempre e sempre
para que ela se fosse de novo
de solidão, fome, frio
e indiferença.
Também não há mais príncipes nem princesas
nessa casa descoberta e erma
nessa casa que já foi de alguém e hoje não.
Apenas não
e esse silêncio brutal que queima
tudo que ainda teima
entre os vãos.

Anne Cerqueira
Setembro 2020

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